terça-feira, 5 de junho de 2012

Informações sobre Campo Grande (Mato Grosso do Sul)


Do alto, da esquerda para a direita: Avenida Afonso Pena, Vista a partir do Parque das Nações Indígenas, Feira Central, Memorial da Cultura Indígena e visão geral da cidade.

Do alto, da esquerda para a direita: Avenida Afonso Pena, Vista a partir do Parque das Nações Indígenas, Feira Central, Memorial daCultura Indígena e visão geral da cidade.
Bandeira de Campo Grande
Brasão de Campo Grande
BandeiraBrasão
Hino
Aniversário26 de agosto
Fundação26 de agosto de 1899 (112 anos)
Emancipação26 de agosto de 1899
Gentílicocampo-grandense[1]
LemaPoder, Prosperidade e Altruísmo
Padroeiro(a)Santo Antônio de Pádua (Rel. MS)
Prefeito(a)Nelson Trad Filho (PMDB)
(2009–2012)
Localização
Localização de Campo Grande














Localização de Campo Grande no Mato Grosso do Sul

Campo Grande (Mato Grosso do Sul) está localizado em: Brasil
Localização de Campo Grande no Brasil
20° 26' 34" S 54° 38' 45" O20° 26' 34" S 54° 38' 45" O
Unidade federativa Mato Grosso do Sul
MesorregiãoCentro Norte de Mato Grosso do Sul IBGE/2008[2]
MicrorregiãoCampo Grande IBGE/2008[2]
Municípios limítrofesNorte: Jaraguari e Rochedo;
Sul: Nova Alvorada do Sul e Sidrolândia;
Leste: Ribas do Rio Pardo;
Oeste: Terenos.
Distância até a capital1 134 km[3]
Características geográficas
Área8 096,051 km² (BR: 176º MS: 8º)[4]
Área urbana154,454 km² (BR: 14º MS: 1º) – est. Embrapa[5]
DistritosCampo Grande (sede), Anhanduí e Rochedinho
População796 252 hab. (BR: 22º MS: 1º) –  Estimativa IBGE/2011[6]
Densidade98,67 hab/km²[6]
Altitude592 m [7]
ClimaTropical com estação seca Aw
Fuso horárioUTC−4
Indicadores
IDH0,814 (MS: 2º) – elevado est. PNUD/2000[8]
Gini0,460 (MS: º) – est. IBGE 2003[9]
PIBR$ 11 645 484 000,00 (BR: 37º MS: 1º) – IBGE/2009[10]
R$ 15 422,30 IBGE/2009[10]
Campo Grande é um município brasileiro da região Centro-Oeste, capital do estado de Mato Grosso do Sul. Reduto histórico de divisionistas entre o sul e o norte, Campo Grande foi fundada há mais de 111 anos por colonizadores mineiros, que vieram aproveitar os campos de pastagens nativas e as águas cristalinas da região dos cerrados. A cidade foi planejada em meio a uma vasta área verde, com ruas e avenidas largas. Relativamente arborizada e com diversos jardins por entre as suas vias, apresenta, ainda nos dias de hoje, forte relação com a cultura indígena e suas raízes históricas. Por causa da cor de sua terra (roxa ou vermelha), recebeu a alcunha de Cidade Morena. A cidade está localizada em uma região de planalto, em que é possível ver os limites da linha do horizonte ao fundo de qualquer paisagem. O aquífero Guarani passa por baixo da cidade[11]
Campo Grande está localizada equidistante dos extremos norte, sul, leste e oeste de Mato Grosso do Sul, fator que facilitou a construção das primeiras estradas da região, contribuindo para que se tornasse a grande encruzilhada ou polo de desenvolvimento de uma vasta área. É considerado o mais importante centro impulsionador de toda a atividade econômica e social do estado, posicionando-se como o de maior expressão e influência cultural, sendo também o polo mais importante de toda a região do antigo estado, desmembrado em 1977. Em 1950, o município concentrava 16,3% do total das empresas comerciais de Mato Grosso do Sul; em 1980, este número subiu para 24,3% e, em 1997, a 34,85%. Também registrou crescimento populacional acima da média nacional nos anos 1960, 70 e 80. Hoje, a cidade possui dimensões e características próximos aos de uma metrópole, com uma população próxima a 800 mil habitantes. Segundo pesquisa feita em 2006 pela revista Exame, Campo Grande é a 28ª melhor cidade do Brasil em infraestrutura,[12] fator decisivo na atração de investimentos.

Etimologia

Seu atual nome originou-se do primeiro nome, que era Arraial de Santo Antônio de Campo Grande.

História

Em 21 de junho de 1872 José Antônio Pereira chegou e se alojou em terras férteis e completamente desabitadas da Serra de Maracaju, na confluência de dois córregos - mais tarde denominados Prosa e Segredo - onde hoje é o Horto Florestal. No dia 14 de agosto de 1875, José Antônio Pereira enfim retornou com sua família (esposa e oito filhos), escravos e outros, num total de 62 pessoas. No primeiro rancho, que havia construído, encontrou Manoel Vieira de Sousa (Manoel Olivério) e sua família, provenientes de Prata, que ali haviam chegado atraídos pelas notícias dos campos de Vacaria, juntamente com seus irmãos Cândido Vieira de Souza e Joaquim Vieira de Souza e alguns empregados, um dos quais Joaquim Dias Moreira (Joaquim Bagage). A região e a vila se desenvolviam em razão do clima e da privilegiada situação geográfica. Isso atraiu habitantes de São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná e Nordeste, entre outros. Depois de cansativas e insistentes reivindicações (também devido a sua posição estratégica, e sendo passagem obrigatória em direção ao extremo sul do Estado, Camapuã ou ao Triângulo Mineiro), o governo estadual promulgou a resolução de emancipação da vila e a elevou à condição de município, ao mesmo tempo mudando o seu nome para Campo Grande, em 26 de agosto de 1899, tendo como primeiro prefeito Francisco Mestre (até 1º/11/1904).
A comarca foi criada em 1910, sendo seu primeiro juiz de direito Arlindo de Andrade Gomes e seu primeiro promotor público, Tobias de Santana. As ideias modernizadoras dos primeiros administradores influenciaram várias áreas, da pecuária ao urbanismo, e foi traçada a zona urbana com avenidas e ruas amplas e arborizadas. Outro fator de progresso para o município e para o estado de Mato Grosso foi a chegada da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, da RFFSA (atual Novoeste), em 1914, ligando as bacias dos rios Paraná e Paraguai aos países vizinhos: à Bolívia (em Corumbá) e ao Paraguai (em Ponta Porã). Finalmente foi concretizada em 11 de outubro de 1977, pela Lei Complementar nº 31, a criação de um novo estado (o Mato Grosso do Sul), cuja capital seria Campo Grande.


Geografia

Campo Grande é a capital do vigésimo primeiro estado mais populoso do Brasil, Mato Grosso do Sul, situando-se próximo ao paralelo 20º26’34” sul e do meridiano 54°38’47” oeste. Suas cidades limítrofes são Jaraguari e Rochedo ao norte; Nova Alvorada do Sul e Sidrolândia ao sul; Ribas do Rio Pardo ao leste; e Terenos ao oeste.[carece de fontes?] Ocupa uma superfície total de 8 096,051 km², ocupando 2,26% da área total do Estado. A área urbana totaliza 154,45 km² segundo a Embrapa Monitoramento por Satélite.[13]


Solo, Topografia e Altitude

Em Campo Grande há três tipos de solos originais: o latossolo vermelho escuro, que são bem profundos e bem drenados; o roxo, onde os solos são bem profundos, drenados e com baixa suscetibilidade a erosão; as areias quartzosas, não hidromórficos, textura arenosa, pouco desenvolvido e com baixa fertilidade natural e litoicos, onde são rasos, muito pouco evoluídos, apresentam teores baixos de materiais primários de fácil decomposição.[carece de fontes?]
Apesar de ser uma cidade serrana, apresenta topografia plana e a Formação Serra Geral é constituída pela sequência de derrames basálticos, ocorridos entre os períodos Jurássico e Cretáceo, na Era Mesozoica. Estas rochas efusivas estão assentadas sobre arenitos eólicos da Formação Botucatu e capeadas pelos arenitos continentais, fluviais e lacustres. Sua menor altitude é 590 metros e a maior é de 801 metros, tendo altitude média de 695 metros.[carece de fontes?]


Clima

Possui temperaturas bastante variáveis durante o ano. Predomina o clima tropical com estação seca, com duas estações muito bem definidas: quente e úmida no verão e menos chuvosa e mais amena no inverno. Nos meses de inverno a temperatura pode cair bastante, em certas ocasiões pode chegar a quase 0°C com geadas ocasionais e leves. Precipitação média de 1 225 mm ao ano, com variações durante certos anos (para mais ou para menos). A amplitude térmica é relativamente elevada devido à pouca influência da maritimidade (a cidade está muito distante do oceano).[carece de fontes?]

Dados climatológicos para Campo Grande, Mato Grosso do Sul - Brasil
Mês Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Ano
Temperatura máxima média (°C) 28,6 30,4 30,2 29,2 27,1 26,1 26,7 29 27,5 30,6 30,4 29,8 28,8
Temperatura mínima média (°C) 19,7 20,1 18,3 18,4 16 15,3 14 16 17,5 18,9 19,5 20,4 17,8
Precipitação (mm) 243,3 187,1 145,4 101,2 111,4 44,8 45,7 39,7 81,1 130 110 229,3 1 224,2
Fonte: Climate Charts[14] 27 de abril de 2011


Hidrografia

Situa-se sobre o divisor de águas das bacias dos rios Paraná e Paraguai. O Aquífero Guarani passa por baixo da cidade,sendo capital do estado detentor da maior porcentagem do Aquífero dentro do território brasileiro. O município não tem grandes rios, sendo cortado apenas por córregos, ribeirões e rios de pequeno porte. Campo Grande está na baciado Rio Paraná, e na sub-bacia do Rio Pardo. Possui dois rios (Anhanduí e Anhanduizinho) e vinte e cinco córregos.[carece de fontes?]


Vegetação

Com um conjunto geográfico uniforme, localiza-se na zona subtropical e pertence aos domínios da região fitogeográfica da savana e árvores caducifóleas. Sua cobertura vegetal autóctone apresenta-se com as fisionomias de savana arbórea densa, savana arbórea aberta, savana parque e savana gramíneo lenhosa (campo limpo), além das áreas de tensão ecológica representadas pelo contato savana/floresta estacional e áreas das formações antrópicas. Está em pleno cerrado, tendo também florestas e Campos.


Áreas verdes

Há uma variedade de áreas verdes na cidade, aos quais se destacam:
Parques
Parque das Nações Indígenas.
  • Parque Anhanduí: localizado na confluência do córrego Segredo com o córrego Prosa. Possui sede administrativa e teatro de arena.
  • Parque Ayrton Senna: oferece um espaço amplo para eventos e exposições, além de contar com diversas quadras de esporte. Possui também oficinas culturais para diversas faixas etárias.
  • Parque Cônsul Assaf Trad: são 258.800 m² de uma área contígua ao empreendimento em um parque com um ampla área verde: 3 lagos, trilha, estações de alongamento, um playground e um anfiteatro. Depois de pronto, o parque foi doado ao município e passou a ser mais uma opção para passeios com a família e convívio com a natureza.
  • Parque Ecológico do Sóter: inaugurado no fim de 2004, é um dos parques mais novos da cidade. Projetado como parque modelo, oferece área verde de 22 hectares, quadras poliesportivas, pista de skate e patinação, pista de cooper, ciclismo e quiosque com churrasqueira.
  • Parque Estadual do Prosa: anexo ao Parque das Nações Indígenas e Parque dos Poderes, possui área de 135 hectares onde fica a nascente do rio Prosa. Local com trilhas para prática de esportes radicais. No mesmo parque estão situados o CRAS (Centro de Reabilitação de Animais Silvestres) e espaços para exposições e venda de artesanatos regionais.
  • Parque Estadual Mata do Segredo: possui 177,58 hectares e é utilizado também para fins de pesquisa científica, educação ambiental, recreação e turismo em contato com a natureza. Situado na zona norte de Campo Grande, pertence aoExército.
  • Parque Florestal Antônio de Albuquerque: chamado também de Horto Florestal (desde 1956), o parque possui uma área verde de 4,5 hectares. Abriga espaço de lazer e várias espécies de árvores nativas, preservando suas características próprias. O local dispõe de orquidário, espelho d'água com espaço para manifestações culturais, pista de bicicross, pista de skate, teatro de arena coberto para atividades múltiplas (capacidade para cerca de 2.000 pessoas), projeto de reflorestamento e paisagismo, biblioteca pública e centro de convivência para idosos.
  • Parque Jacques da Luz: oferece um espaço amplo para eventos e exposições, além de contar com diversas quadras de esporte. Possui também oficinas culturais para diversas faixas etárias.
  • Parque das Nações Indígenas: considerado o maior parque urbano do mundo, com uma extensão de 119 hectares, o local oferece infraestrutura adequada para a prática de lazer e esporte. Possui uma pista asfaltada para caminhada de 4000m, quadra de esportes, pátio para skate e patins, sanitários, lanchonetes, policiamento e um grande lago formado próximo à nascente do córrego Prosa. Disponibiliza também um local destinado a shows e apresentações. Cerca de 70% da vegetação do parque é formada por gramas e árvores ornamentais que fazem parte do projeto de paisagismo do parque. Uma grande quantidade de espécies de árvores são preservadas, como jenipapo, mangueira e aroeira.
  • Parque dos Poderes: possui como característica a paisagem do cerrado. Os pequenos prédios que abrigam os diversos setores da administração estadual se espalham ao longo das avenidas, dando ao conjunto aspecto de perfeito equilíbrio ambiental. Destacam-se na paisagem a Torre da TV Educativa (apontada como a mais alta de alvenaria no País) e o Centro de Convenções Rubens Gil de Camilo, um dos maiores e mais bem equipados centros de convenções do interior do Brasil. Dirigir no parque à noite exige atenção para não atropelar algum animal(lobinhos, quatis e tatus) que mora na reserva adjacente. E também de dia, porque, principalmente nos fins de semana, o parque é tomado pelos adeptos da caminhada e da bicicleta.
Praças

Praça Cuiabá.

Praça Ari Coelho.
  • Praça Ary Coelho: localizada no centro da capital, o local abrigou o primeiro cemitério de Campo Grande (na época, arraial de Santo Antônio), tornando-se praça em 1909 com o novo traçado da cidade. Em 1954 recebeu o nome de Praça Ary Coelho em homenagem ao Prefeito de Campo Grande, assassinado em 1952, em Cuiabá-MT. A praça costuma abrigar shows musicais, além de apresentações de teatro e capoeira. É a praça mais tradicional da capital.
  • Praça Cuiabá: conhecido também por Monumento Cabeça de Boi, seu traçado topográfico foi feito em 1923, no início da construção dos quartéis e da Vila Militar do Exército. O local, na época da inauguração do Coreto (1925), ainda não era uma praça, mas apenas uma rotatória na confluência das ruas Dom Aquino, Marechal Rondon e Duque de Caxias.
  • Praça das Araras: dispõe de quadra esportiva, espelho d'água, parque infantil e o monumento das araras. Também conhecida como Praça União, foi inaugurada junto com o Mercado Municipal em 1964. O monumento foi criado pelo artista Cleir para despertar a atenção da população para a preservação da arara azul. Após o término da construção do complexo Cabeça de Boi, em 1996, a praça foi totalmente remodelada. Por causa das polêmicas esculturas das araras, que lhes emprestam o nome, a Praça das Araras é uma das mais procuradas pelos campo-grandenses e visitantes.
  • Praça Esportiva Belmar Fidalgo: possuindo toda infraestrutura esportiva, foi construído em 1933 como estádio de futebol e, em 1987, tornou-se uma praça esportiva. Em 1994, o local passou por uma grande reforma. Possui duas quadras poliesportivas, arena para quadras de areia, pista de cooper, banheiros, duchas, campo de futebol suíço, playground infantil, área para ginástica, lanchonete, sede administrativa, muito verde e uma forte iluminação. O local é muito frequentado, sobretudo aos finais de semana.
  • Praça dos Imigrantes: a praça é dividida em duas partes: uma com lanchonete e banheiros e outra com 30 estandes onde são vendidos trabalhos artesanais. Neste local, ainda há um minipalco que é utilizado para apresentações em dias comemorativos, como Dia das Mães, Dia do Artesão e Dia do Índio, entre outros.
  • Praça Lúdio Martins Coelho: conhecida também por Praça Itanhangá, é uma área verde onde podem ser encontradas nascentes de água. Possui pista de cooper, quiosques e um parque infantil.
  • Praça Oshiro Takemori: na praça funciona a Feira Indígena, que possui três quiosques em formato de oca onde são comercializados produtos naturais (raízes medicinais, palmito, variedades de pimenta, milho verde, abóbora, conservas de pequi, etc.) e peças de artesanato indígena. Possui um espaço para eventos que comporta 500 pessoas.
  • Praça da República: conhecida como Praça do Rádio, por ficar em frente à sede do Rádio Clube. O terreno pertencia à Diocese de Campo Grande, que fez uma permuta com a Prefeitura Municipal para a construção da praça. No local, costumam acontecer feiras e shows musicais. A praça também abriga uma pequena loja de artesanato regional.
  • Praça Vilas Boas: conhecida também como praça do peixe, por ter um formato semelhante ao de um peixe. Foi toda revitalizada e é mantida pelos moradores. O Bairro Vilas Boas concentra muitos artistas plásticos, artesãos e músicos.
Outros
  • Cachoeirinha: cachoeira situada próximo ao Shopping Eldorado Campo Grande.
  • Inferninho: tem várias cachoeiras, sendo muito apreciado por pessoas que gostam de esportes radicais como o rapel, trilhas, escaladas e outros.
  • Lago do Amor: nos anos sessenta e setenta foi refúgio de lazer do campo-grandense, com bar e pedalinhos. Ganhou esse nome por ser cenário frequente de namoros no carro. foi revitalizada
  • Lagoa Itatiaia: foi revitalizada em dezembro de 2003 e quem mora próximo à lagoa frequenta o local para contemplar a natureza ou praticar exercícios físicos. Apesar de estar descuidada, está em andamento a sua recuperação.


Demografia

Crescimento populacional
1872 65
1902 602
1915 2.000
1922 8.256
1932 30.010
1940 49.629
1960 74.249
1964 92.135
1970 140.140
1975 180.300
1980 291.777
1991 526.126
1996 544.069
2000 600.621
2003 665.975
2008 667.189
2010 787.204
Desde a sua fundação, a cidade de Campo Grande tem crescido de maneira razoavelmente constante, com uma população de mais de 750 mil habitantes (ou 31,77% do total estadual) e cerca de 90 hab/km², sendo o terceiro maior e mais desenvolvido centro urbano da região Centro-Oeste e a 24ª maior cidade do Brasil em 2008, segundo o IBGE. Entre seus moradores é possível encontrar descendentes de espanhóis, italianos, portugueses, japoneses, sírio-libaneses, armênios, paraguaios e bolivianos. A qualidade de vida de Campo Grande acabou atraindo também muitas pessoas de outros estados do Brasil, especialmente dos estados vizinhos (São Paulo, Paraná e Minas Gerais) e do Rio Grande do Sul.

Domicílios de Campo Grande
Total de domicílios 283 334 domicílios













Est: IBGE
Domicílios particulares 283 017 domicílios
99,89%
Domicílios coletivos 317 domicílios
0,11%
Domicílios por rendimento
Mais de 5 salários
7,4%
De 2 a 5 salários
47,15%
De 1 a 2 salários
16,58%
De 0,5 a 1 salário
19,48%
De 0,25 a 0,5 salários
4,18%
Até 0 25 salários ou sem rendimento
5,17%
Domicílios por classe social
Classe A
7,4%
Classe B
17,15%
Classe C
56,06%
Classe D
14,18%
Classe E
2,74%
Classe F
2,43%
Classe alta (A - B)
24,55%
Classe média (C - D)
70,74%
Classe consumidora (A - B - C - D)
94,79%
Classe periférica (E - F)
5,17%
Índice Gini
Totaliza 0,610 (est. 2000)
Mortalidade infantil
13,45 por mil

Etnias e imigração

Reserva Indígena Urbana Marçal de Souza.
No início do século XX, pouco tempo após o Brasil ter abolido a escravidão negra, as necessidades de mão-de-obra nos campos e nas cidades eram uma questão de emergência, e o interesse em receber imigrantes por parte do governo brasileiro veio a solucionar uma questão que já estava se tornando agravante para o país. Campo Grande recebeu várias imigrações, aos quais se destacam a imigração alemã e do leste europeu; a espanhola; a italiana; a japonesa; a paraguaia; a portuguesa e a sírio-libanesa. Capital do estado que concentra a 2ª maior comunidade indígena do Brasil, Campo Grande mistura influências de diversas etnias, principalmente dos vizinhos fronteiriços. Desbravada por mineiros, Campo Grande acolheu diversos imigrantes, além de brasileiros de vários estados. Ainda partilha a cultura do estado em que está inserido, o Mato Grosso do Sul. No município é grande a interação com a zona rural. Quem mora na zona urbana se desloca muito para a zona rural, ocorrendo também o contrário. A influência que o campo exerce na cidade é grande e percebe-se através dos alimentos. Entre os costumes mais fortes da cultura local encontram-se eventos como o Moto Road e a exposição agropecuária local.


Religião

As religiões predominantes são a protestante e a católica. Para esta última, a cidade pertence à Arquidiocese de Campo Grande e seu padroeiro é Santo Antônio. Todavia, Campo Grande possui uma das maiores populações evangélicas do País. Igrejas como Batista, Presbiteriana, Metodista, Luterana e Assembleia de Deus possuem muitos adeptos e apresentam crescimento mais acentuado do que o catolicismo. Campo Grande, como a maioria das cidades brasileiras, começou a se desenvolver à beira de um curso d'água e à sombra de uma igreja. Algumas edificações se mesclam à história da cidade.
Templos históricos
  • Catedral de Nossa Senhora da Abadia: foi a primeira igreja construída na cidade, por volta de 1880, em homenagem ao santo protetor de José Antônio Pereira, fundador da cidade. Foi demolida em 1977 para a construção da atual igreja matriz, que recebeu o título de Catedral Metropolitana de Nossa Senhora da Abadia depois da bênção do Papa João Paulo II, em 1991.
  • Igreja de São Benedito: está intimamente ligada à ex-escrava Eva Maria de Jesus, a Tia Eva. Líder de sua comunidade, ela construiu a igreja em 1910 para pagar uma promessa feita a São Benedito. A igreja foi decretada Patrimônio Cultural de Campo Grande em junho de 1998. A imagem de São Benedito, esculpida em madeira e trazida de Goiás por Tia Eva, permanece até hoje no local. Tia Eva faleceu em 1926 e seu corpo está sepultado em frente à capela. Desde 1905, os devotos do santo e descendentes da Tia Eva reúnem-se para a tradicional Festa de São Benedito, no mês de maio, que inclui eventos culturais, bailes, comidas típicas, leilões e jogos de quermesse, rezas e fogos de artifício.
  • Igreja Presbiteriana Central de Campo Grande: templo construído em 1935 e um dos mais procurados para casamentos.
  • Paróquia de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro: fundada em 1938, localiza-se em um dos primeiros bairros da cidade, oAmambaí.
  • Paróquia de São Francisco de Assis: localiza-se ao lado da estação ferroviária e é uma das poucas igrejas que ainda conservam sua arquitetura original. É utilizada para prática religiosa e cultos e pertence aos padres franciscanos, formando com o conjunto ferroviário um marco referencial urbano da parte antiga da cidade. Considerada uma das maiores construções históricas de Campo Grande.
  • Paróquia São José: construída em 1938, possui belos vitrais e é uma das mais frequentadas na cidade.

Economia

Composição econônica de Campo Grande[18]
Agropecuária R$ 106.635.000,00
1,02%
Indústria R$ 1.555.430.000,00
14,86%
Serviços R$ 8.800.022.000,00
84,13%
A população economicamente ativa do município totaliza 333.597 pessoas (189.202 homens e 144.396 mulheres) e seu potencial de consumo é de 0,58% (est. 2006). De um modo geral, a maior parte da mão-de-obra ativa do município é absorvida pela setor terciário (comércio de mercadorias e prestação de serviços). A construção civil também desempenha papel muito importante na economia local.
O cenário de crescimento atual faz com que a cidade possa ter condições de oferecer mais empregos, mas tem como desafio crescer de forma planejada sem que esse boom se torne uma catástrofe social e tire um dos principais chamarizes para o investimento: a qualidade de vida. Um exemplo otimista pode ser observado nos supermercados populares distribuídos pelos bairros da cidade. Famílias de baixa renda movimentam o comércio local, reflexo do momento de prosperidade da população local. A construção dos quatro novos shoppings centers (Bosque Campo Grande, Norte-Sul, Pátio Central e Cidade Morena) na cidade deve gerar mais cinco mil postos de empregos.
Crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) (fonte: IBGE)
Ano PIB (R$) PIB per capita (R$)
2000 3.621.488.000,00 5.385,27
2001 3.847.086.995,00 5.593,90
2002 4.802.070.000,00 6.830,00
2003 5.515.740.000,00 7.675,00
2004 6.356.403.000,00 8.658,00
2005 6.903.356.000,00 9.207,00
2006 7.839.567.000,00 10.244,00
2007 8.944.688.000,00 12.346,00
2008 10.462.086.000,00 14.001,93


Setor primário

Importante ramo econômico de Campo Grande, é uma de sua principais fontes de arrecadação.
Na agricultura as principais culturas agrícolas são soja, milho, arroz e mandioca. É o 4º produtor de leite, 6º produtor de mel de abelhas (juntamente com os municípios de Amambai, Laguna Carapã e Maracaju), 11º produtor de ovos de galinha, maior produtor de lã e 17º produtor de trigo do estado.
A pecuária bovina abastece os frigoríficos locais, que exportam carne para outros estados do Brasil. Outra atividade importante é a pecuária leiteira. Possui o 3º rebanho suíno, 6º rebanho bovino, 14º rebanho ovino e o 12º efetivo de aves (galinhas, galos, frangos) do estado.


Setor secundário

A junção dos setores primário e secundário, especialmente na agroindústria, desempenha papel importante na economia local, sendo um de seus pilares.
Segundo o IBGE, há um total de 1300 indústrias de transformação no município. Estima-se que só nos polos industriais devem ser instaladas 180 indústrias nos próximos anos, sendo que 40 estão em fase de execução, num investimento de R$ 900 milhões com a expectativa de pelo menos 15 mil novos empregos. A Agência Municipal de Desenvolvimento Econômico estima que dentro das 180 indústrias incentivadas nos polos industriais nas saídas para Cuiabá e Sidrolândia, 40 estão em fase de instalação, 53 já funcionam, 44 cumprem as exigências e apresentam os projetos e 43 foram canceladas ou negadas. Muitas vezes as questões ambientais pesam na hora de não aceitar um investimento.
Principais ramos: indústria extrativa, editorial e gráfica, roupas (vestuário, calçados e artefatos de tecidos), mobiliário, entreposto de ovos, fábrica de conservas, frigorífico (abate de aves, coelhos e bovinos), beneficiamento e fábrica de laticínios, sucos e extrato de frutas, água mineral e refrigerantes, material de limpeza, farelo e farinha de soja, fábrica de produtos e subprodutos de origem animal, metalúrgica, transporte, madeireira, mecânica, material elétrico e de comunicação, papel e papelão, borracha, produtos farmacêuticos e veterinários, perfumaria/sabões/velas, produtos de matérias plásticas, têxtil, curtume, fábrica de óleo de soja, fábrica de massas e biscoitos, moinho de trigo e fecularia.


Setor terciário


Shopping Campo Grande.
Com um razoável desenvolvimento comercial, Campo Grande dispõe de variados estabelecimentos: em 2006 eram cerca de 12 mil, em 2008 ultrapassaram os 20 mil estabelecimentos e em 2010 podem chegar a 25 mil unidades. Vários grupos acenam para o mercado campo-grandense.


Turismo


Ônibus turístico ou City Tour.
Campo Grande dispõe de uma grande infraestrutura tanto para o turismo tradicional quanto para turismo de eventos e histórico. Oferece várias opções de hotéis e equipamentos de lazer rural e urbano, sendo considerada um importante ponto turístico em território brasileiro. Campo Grande é uma das opções por onde começa a aventura turística dos que se propõem a conhecer o Pantanal. A cidade tem seu próprio gestor de turismo, o Campo Grande Convention & Visitors Bureau.
Campo Grande também se destaca no turismo de eventos, oferecendo diversas oportunidades de negócios. Recebe vários eventos nacionais e internacionais, dispondo de uma infraestrutura de serviços. Também a opção do turismo rural. Pode-se conhecer estâncias, pousadas rurais, pesque-pagues, trilhas ecológicas, cachoeiras e fazer esportes radicais e cavalgadas. No day-use o turista pode conhecer a história e cultura dos peões locais, além de ter a opção de comprar guloseimas e artesanato rural.
Em Campo Grande a rede hoteleira chega a 50 unidades e o númerode leitos a 4 mil. Faltam dois mil leitos em hotéis para atender a demanda de eventos na Capital. Os investimentos que vem para aliviar essa deficiência é o novo hotel em frente ao Shopping Eldorado Campo Grande, na Avenida Afonso Pena, da rede hoteleira Metropolitan e Hotel Internacional. O prédio terá classificação de quatro estrelas, com oito andares, 200 apartamentos, dois restaurantes, seis salas de conferência, uma sala de ginástica e galeria de lojas que atenderá as classes A e B. As obras da rede Metropolitan iniciaram em março de 2007, com previsão de conclusão até o 2° bimestre de 2010. O custo do investimento deve superar R$ 25 milhões. Outro hotel, o Holiday Inn de categoria cinco estrelas, está sendo construído em frente à Base Aérea, na Avenida Duque de Caxias. A obra do hotel seria parte do projeto da prefeitura para trazer a Copa do Mundo de 2014, mas a cidade acabou não-escolhida subsede da copa. O proprietário é o empresário Jair Pandolfo, dono de três hotéis em Campo Grande.


Influência regional

Campo Grande, com 787 mil habitantes e 30 relacionamentos diretos, é uma capital regional A. Campo Grande é uma das duas cidades de MS (juntamente com Dourados) que, como as metrópoles, também se relacionam com o extrato superior da rede urbana. Com capacidade de gestão no nível imediatamente inferior ao das metrópoles, têm área de influência de âmbito regional, sendo referidas como destino, para um conjunto de atividades, por grande número de municípios. Campo Grande é uma das 11 cidades no Brasil com a classificação Capital Regional A. As 30 cidades influenciadas por Campo Grande são as seguintes:


Política

Campo Grande conta com o maior colégio eleitoral do estado de Mato Grosso do Sul. Seu eleitorado total é de 509.910 (238.974 homens e 270.936 mulheres). Pertence à Comarca de Campo Grande.
O poder executivo em Campo Grande é representado pelo prefeito, vice-prefeito e secretários municipais, que são responsáveis pela promulgação e aplicação das leis municipais. Seu atual prefeito é Nelson Trad Filho (Nelsinho Trad) (2005/2012), do PMDB, e o vice-prefeito é Edil Albuquerque, do mesmo partido. O poder legislativo em Campo Grande é representado pela Câmara de Vereadores, que é responsável pela apreciação e aprovação de leis municipais. A cidade é representada por um total de 21 vereadores.
Campo Grande é sede do Poder Judiciário Estadual (Tribunal e Justiça do Estado). Também é sede do Tribunal Regional do Trabalho da 24ª Região, ou seja, do Estado de Mato Grosso do Sul. O Tribunal de Contas do Estado, embora sediado em Campo Grande, não pertence ao Poder Judiciário nem é um órgão do Poder Legislativo, pois possui autonomia administrativa e financeira. Sua função é auxiliar o Legislativo e fiscalizar a aplicação do dinheiro público. É a sede também da Auditoria da 9ª Circunscrição Judiciária Militar, órgão da Justiça Militar da União, ramo especializado do Poder Judiciário Federal, incumbido de julgar os crimes militares cometidos nos estados de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, sua área de atuação jurisdicional.
Cidades-irmãs
Campo Grande tem como cidades-irmãs as cidades a seguir:


Subdivisões

Estrutura Urbana


Saúde

Na saúde, a cidade de Campo Grande tem variadas modalidades médicas distribuídos por várias unidades de saúde, incluindohospitais, maternidades e pronto-socorros. Entretanto, seus principais centros públicos sofrem com a superlotação de várias pessoas que procuram atendimento na cidade, incluindo pacientes vindos do interior do estado. São 843 unidades desaúde (sendo 27 hospitais), distribuídos entre públicos e privados. Com relação ao número de leitos, Campo Grande oferecem um total de 2463 leitos hospitalares. Campo Grande também é uma das capitais do Brasil mais bem servidas também de cemitérios, totalizando 8, entre públicos e privados.
A cidade não está preparada para administratar o lixo produzido. Em certos casos, há o despejo de lixo hospitalar junto com lixo comum.


Educação

No ensino fundamental, segundo o MEC, há 449 escolas de ensino básico, fundamental, médio e profissionalizante. No ensino superior são 11 escolas (5 universidades e 6 faculdades). Também se destaca na pesquisa.


Comunicações

Dispõe de uma boa infra-estrutura para comunicações que abrange jornais, revistas, rádios e emissoras de televisão. Com relação a internet, Campo Grande dispõe de conexões de banda larga e pontos de acesso público. No entanto, a forma mais comum de acesso para a população é nos próprios hotéis ou com preços normalmente mais em conta, além de cybercafés e LAN houses (as casas de jogos em rede). O acesso a internet é bastante difundido em toda zona urbana. Pela internet é possível fazer também ligações pelo sistema VOIP.


Transporte


Avenida Afonso Pena, em 2006.
O transporte interurbano que atende o município é dividido em rodoviário e aéreo. Por automóvel, suas principais rodovias são a BR-060, BR-163 e BR-262, além das estaduais. A cidade ainda conta com o Terminal Rodoviário de Campo Grande, ao qual operam 20 empresas que dispõem de linhas de ônibus rodoviário para várias partes do Brasil.
O Aeroporto Internacional de Campo Grande é o maior do estado, possuindo duas pistas de 2600m, uma área de embarque de 6 mil m², 5 empresas de transporte e distante 6 km do Centro. O aeroporto Santa Maria: situado a leste de Campo Grande, na zona rural, recebe pequenos aviões particulares e agrícolas. Já o Teruel: situado no sul da cidade, a 15 km da região central, recebe pequenos aviões particulares e agrícolas
Já o transporte urbano de Campo Grande é representado por 4 modalidades: Os ônibus coletivos, que contam com uma frota de 600 veículos, que operam em 150 linhas e 10 terminais; o Fresquinho, que possui uma frota de 25 veículos e opera em 10 linhas, o sistema de táxi, onde há cerca de mil veículos e 100 pontos e o mototáxi, também com mil veículos e 100 pontos.


Cultura

A cultura em Campo Grande é marcada pela diversidade de costumes, música e gastronomia e reflete traços culturais singulares devido à herança deixada pelos índios e diversas raças, como a europeia, sírio-libanesa, japonesa, paraguaia, boliviana e pelos migrantes oriundos de outros Estados que aqui se radicaram.


Monumentos


O Relógio Central de Campo Grande, atualmente na esquina da Rua Calógeras com a Avenida Afonso Pena, outrora localizava-se entre a Rua 14 de Julho e a Avenida Afonso Pena.
Os monumentos são marcos de sua história e eternizam a importância dos povos que contribuíram para a evolução urbana de Campo Grande. Algumas edificações se mesclam a história da cidade. O Monumento do Aviador na Base Aérea de Campo Grande é homenagem o Tenente Aviador Chaves Filho, Sub Comandante da Base. Já Monumento ao Índio no Parque das Nações Indígenas simboliza e homenageia a cultura indígena. O Monumento da Imigração Japonesa na Praça da República de Campo Grande traz a marca a chegada da colônia japonesa ao Estado, no início do século XX. A obra, que representa a maquete de uma casa típica japonesa, é do escultor Yutaka Toyota e está localizada na área central da Praça da República, tendo sido inaugurada no dia 26 de agosto de 1979 em homenagem aos 70 anos da imigração japonesa.
O Monumento Carro de Boi, também conhecido por Monumento dos Imigrantes, é considerado o marco da fundação da cidade. Tal monumento marca o local onde chegaram as primeiras famílias de migrantes em Campo Grande, que vieram de Minas Gerais desbravar a região. Idealizado pela artista plástica Neide Ono e construído em 1996, o monumento é representado por um carro de boi, meio de locomoção utilizado pelos colonizadores da cidade. Localizado ao lado do Horto-Florestal. O Monumento Pantanal Sul no Aeroporto Internacional de Campo Grande é representado por dois tuiuiús, símbolo do Pantanal. Já o Obelisco foi construído em homenagem aos fundadores da cidade, e inaugurado no dia 26 de agosto de 1933, na gestão do então Prefeito Ytrio Corrêa da Costa, num projeto do Engenheiro Newton Cavalcante, na época comandante da Circunscrição Militar. Foi tombado como Patrimônio Histórico de Campo Grande em 26 de Setembro de 1975. O Relógio Central, originalmente construído na confluência da rua 14 de Julho com a avenida Afonso Pena, foi ponto de referência da cidade, onde aconteciam grande reuniões e comícios políticos. A réplica existente, inaugurada em 2000, imita o original, que media 5 metros de altura, possuía um relógio com quatro faces e foi demolido em nome do progresso.


Produtos regionais

Um dos seus maiores símbolos de Campo Grande nasceu da inspiração de Conceição Freitas da Silva, mais conhecida por Conceição dos Bugres. Suas esculturas de bugrinhos ficaram famosas no resto do mundo. Mesmo depois de sua morte, seus descendentes continuaram seu projeto. O artesanato indígena, principalmente terena e kadiwéu também é muito comum na cidade. Na produção terena se destacam a cerâmica, adornos, objetos em palha, barro e tecelagem. Na produção kadiwel se destaca mais o barro. Atualmente na cidade há peças esculpidas em osso e couro de peixe. Esculturas de tuiuiús, garças, onças também se destacam. Também se destacam o artesanato rural como arreio, berrante e agroprodutos. Em prédios públicos, como a Casa do Artesão (situado na esquina da Avenida Calógeras a Afonso Pena, no Centro),há várias opções disponíveis. Há também a Praça dos Imigrantes, onde são comercializados trabalhos manuais. Campo Grande é um dos maiores núcleos de artesanato do estado, possuindo vários espaços. Locais como o Barroart, Feira Central: também conhecida como "Feirona", foi fundada no início dos anos 70, Feira Indígena, Memorial da Cultura Indígena, Mercado Municipal Antônio Valente e Praça da República de Campo Grande são alguns dos principais pontos de cultura regional de Campo Grande.


Música

Na capital sul mato grossense destacam-se os seguintes gêneros como o chamamé, guarânia e sertanejo. Neste último, a cidade tem sido uma das maiores portas para o sucesso de artistas do gênero, como Almir Sater, Geraldo Espíndola, Tetê Espíndola, Luan Santana e Michel Teló, até duplas, como Maria Cecília & Rodolfo e João Bosco & Vinicius. Campo Grande vem crescendo musicalmente a cada ano e nota-se uma mudança significativa na qualidade de seu produto musical. O estilo Sertanejo que sempre foi o ponto forte da região, começa a abrir espaço para novos movimentos musicais que contam com bandas de Rock (já tradicionais, porém menos expressivas até então), Jazz, MPB, Grupos de Percussão, Música Eletrônica e Música Clássica. Grupos como Muchileiros, Sarravulho, Bêbados Habilidosos, Grupo Acaba, Bojo Malê, Grupo Tradição, Dombrás, Curimba, O Bando do Velho Jack, Agemaduomi são alguns destaques na cena musical de Campo Grande em seus respectivos gêneros.


Culinária

A culinária de Campo Grande incorpora vários sabores. Na cidade os restaurantes incorporaram ao cardápio local receitas desenvolvidas com produtos regionais. Um exemplo é o nhoque de mandioca com molho de carne-seca. Também se destaca o churrasco de carne bovina (por conta da forte influência gaúcha) com mandioca (hábito adquirido com os índios). Para completar umas gotas de shoyu, tempero japonês a base de soja (shoyu = soja em japonês), que se tornou popular entre os campo-grandenses. Do Japão também veio outro prato típico: o sobá, que é um tipo de macarrão, sendo a primeira cidade no Brasil a dispor desse tipo de restaurante. Os peixes também têm sua importância gastronômica, sendo muito comum o pacu, dourado, pintado e piranha. A sopa paraguaia, também muito comum, é um tipo de bolo com milho, cebola e queijo. Outro prato comum é a chipa, semelhante ao pão-de-queijo. Outros pratos que também são comuns são os feitos com pequi, como arroz ou galinha com pequi (cuidado para não se machucar com os espinhos dentro da fruta), além de guariroba e arroz carreteiro com charque.
Como bebida típica há o tereré (feito com infusão de erva-mate e água gelada), servido numa guampa geralmente de chifre de boi e com uma bomba, de fácil preparo e tomado nos encontros entre amigos e familiares. Existem regras bem definidas numa roda de tereré e que devem ser respeitadas. A bebida é consumida especialmente nos fins-de-semana, acompanhada de música regional.


Arquitetura

Campo Grande possuindo avenidas amplas e largas que se cruzam nos sentidos norte-sul e leste-oeste, formando um desenho semelhante a um tabuleiro de xadrez.
A cidade experimentou um "boom" de desenvolvimento nas década de 1960, década de 1970 e década de 1980, condição que acabou facilitando também a construção das primeiras estradas de acesso, sendo grande polo atrativo de empregos. Já na década de 1990, definhava na ausência de perspectivas econômicas, chegando até mesmo a sofrer déficit nas estatísticas de crescimento, recuperando-se a partir do final dessa década. Há uma perspectiva de que no início da década de 2020 conte com mais de 1 milhão de habitantes, podendo assim ser considerada uma metrópole regional.
Nos últimos anos houve um grande crescimento de construções voltadas para as classes A e B, ultrapassando R$ 1 bilhão só na fase de implantação. Isso se dá pelas seguintes razões: saturação dos grandes centros (que já não têm mais espaço para determinadas atividades econômicas); da estabilidade econômica e aumento da renda da população local; incentivos municipais e estaduais, que vão desde a isenção de ISS (Imposto sob Serviços de Qualquer Natureza) e IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) até doação de áreas e execução de terraplanagem. O fato de que na cidade não existe concentração de indigentes e pedintes de rua, se comparado aos grandes centros, também pesa na hora de atrair investidores. Os programas sociais dos governos conseguiram amenizar a situação crônica enfrentada pelas famílias excluídas. A cidade é a primeira capital a eliminar todas as favelas e, além disso, os índices de violência são considerados muito baixos para os padrões brasileiros.
Entretanto, a expansão horizontal da cidade acabou provocando baixa densidade populacional, grandes distâncias, bairros com pouca infraestrutura, além de inúmeros terrenos vagos. Segundo urbanistas, caberia outra Campo Grande dentro dela mesma. Há estudos para urbanizar os vazios da cidade.


Vida noturna

Campo Grande possui diversão para os mais diversos públicos e sua vida noturna é muito rica e movimentada, tendo várias opções para sair na cidade, especialmente nos fins de semana.
Para o calor do fim da tarde há vários bares espalhados pela cidade, um para cada tipo de gosto, especialmente regional. Mas há baladas variadas também: boates, matinês, shows e festas temáticas (dos anos 80, por exemplo). A noite vem crescendo cada vez mais com a inauguração de novos bares e casas noturnas. Há ainda os restaurantes e vários destes servem variados tipos de comida, possuindo também a opção de rodízios, principalmente pizzarias. Na cidade há no total quase 1000 estabelecimentos de bares, choperias, lanchonetes e restaurantes.


Cinema

A cidade conta com um total de 22 salas de exibição. Já teve alguns extintos.


Literatura


Entidades

  • União Brasileira de Escritores - Seção MS: surgiu a partir do antigo MEI - Movimento de Escritores Independentes e atualmente congrega escritores da capital e do interior do Estado. Realizou em 1986 a Noite da Poesia de Campo Grande como mostra não-competitiva, que a partir de 1989 foi transformada em um concurso de poesia contemplando texto e declamação. O evento que se tornou referência estadual, hoje acontece em nível nacional. É realizado graças à parceria com a Fundação de Cultura de Campo Grande, que nos últimos anos trouxe grandes nomes para a realização de palestras, como Adélia Prado, Wally Salomão, Arnaldo Antunes, Nélida Piñon, Gabriel o Pensador e Affonso Romano de Santana.
  • Academia Sul-Mato-Grossense de Letras: cognominada "Casa Luís Alexandre de Oliveira" com sigla A.S.L., é sucessora da Academia de Letras e História de Campo Grande, fundada em 11 de outubro de 1972, desde 1979 possui o nome atual. É uma associação de duração ilimitada, que tem finalidade exclusivamente literária e cultural, legalmente constituída em pessoa jurídica. É a associação literária máxima que representa o estado de Mato Grosso do Sul perante a Academia Brasileira de Letras.


Bibliotecas

Biblioteca Dr. Manoel de Oliveira Gomes (Ministério Público do Estado de Mato Grosso do Sul) o acervo da biblioteca é composto atualmente de 5.820 obras em geral divididos entre livros, revistas,folhetos,obras de refêrencias e CD-rooms, possui ainda as coleções do Diários da Justiça de MS, Diário Oficial de MS, Diário Oficial da União (desde fevereiro de 1979), aberta ao público para pesquisa.


Esporte

A cidade possui razoável planejamento de infraestrutura esportiva: recebe todo ano eventos esportivos e automobilísticos importantes como a Formula Truck e a Stock Car. O maior estádio universitário da América Latina também se encontra na cidade. Possui vários outros equipamentos esportivos que impulsionam mais o turismo esportivo e atraem milhares de pessoas.
A cidade é servida pelo Autódromo Internacional Orlando Moura, que fica 15 km a oeste do Centro de Campo Grande e possui uma pista com 3.433 metros de extensão. Recebe todos os anos etapa nacional da Stock Car, Fórmula Truck e Motovelocidade e Kartódromo Ayrton Senna, que está a 15 km a sul do Centro de Campo Grande, no bairro Cidade Morena, possuindo uma pista de 930 metros de extensão.
Principal polo futebolístico do estado, Campo Grande possui toda infraestrutura relativa a este esporte, com vários estádios e clubes. Sendo candidata a ser subsede da Copa do Mundo FIFA 2014 no Brasil perdeu. Os principais times municipais são o Comercial e o Operário, pois foram os que jogaram no Campeonato Brasileiro. Outros times profissionais do município são: Moreninhas, Portuguesa, CENE, União, Campo Grande, Taveirópolis, Guaicurus e MS Saad A cidade possui alguns estádios, como o Morenão; Belmar Fidalgo; Estádio Jacques da Luz; Estádio do Esporte Clube Comercial e Elias Gadia.
Para prática de outros esportes, existem vários ginásios espalhados pela cidade, como o Obra Social Paulo VI; Centro de Treinamento Esportivo; Centro Poliesportivo da Mace; Ginásio Clube do Trabalhador; Ginásio Moreninho (Cidade Universitária de Campo Grande): pertencente à UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul); Ginásio Guanandizão; Ginásio do Parque Ayrton Senna; Ginásio do SESC Camillo Bonni e Dom Bosco.


UM "GRANDE VAZIO"


Eurípedes Barsanulfo Pereira


Até a chegada e a fixação de José Antônio Pereira na confluência dos córregos, posteriormente denominados "Prosa" e "Segredo", esta área, da extensa região do então chamado "Campo Grande", servia apenas como passagem para aqueles que procuravam chegar a Camapuã, e depois continuarem a jornada, em busca do ouro, em Cuiabá; para os que se deslocavam do Sertão dos Garcias (atual Município de Paranaíba) rumo a Vacaria; ou para os que, à época da Guerra do Paraguai, tangidos pelas investidas dos invasores de nosso território, foram se resguardar nas fazendas situadas a leste do rio Sucuriú. Completamente desabitada, fazia parte de um "grande vazio", ao sul da Província de Mato Grosso, como a denomina Acyr Vaz Guimarães.
A não ser os campos da Vacaria, mais ao sul, que já estavam sendo ocupados por diversas fazendas, esta parte não havia atraído, na verdade, a atenção daqueles que procuravam os sertões, para se apossarem de terras devolutas.
O mais eloqüente relato sobre as imediações de onde surgiria a cidade de Campo Grande é de autoria de Alfredo d'Escragnolle-Taunay, o Visconde de Taunay, em "Céus e Terras do Brasil":
"Uma légua mais, entramos no Campo Grande. Esta extensa campina constitui vastíssimo chapadão de mais de cinqüenta léguas de extensão, em que raras árvores rompem a monotonia duma planura sem fim (...)."
Quando por aqui chegou, ao anoitecer do dia 21 de junho de 1867, Taunay foi descansar junto ao "capão do Buriti," onde em 1865 havia se arranchado uma família brasileira, para "fazer mate" e que na ocasião foi presa por soldados paraguaios. Nem mesmo, quando descreve sua passagem pela "lagoa do Paula" ou pelo ribeirão das "Botas," acusa o encontro de alguma alma vivente ou de qualquer palhoça. Era de seu costume seguir caminhos, ao longo dos quais pudesse encontrar os melhores pontos para as paradas, especialmente pernoites, como se pode constatar nos relatos de suas viagens. Percebe-se, claramente, que tudo o que era digno de ser anotado, o fazia, descendo aos detalhes, quer de aspectos físicos dos locais, quer das pessoas que por acaso encontrasse, chegando muitas vezes ao requinte de retratá-los em desenhos. É de se estranhar, portanto, que se tivesse encontrado moradores nesta região do Campo Grande, apenas estes, não merecessem citação no seu diário de viagem.
Rosário Congro, em publicação, de 1919, intitulada: "O Município de Campo Grande - Estado de Matto Grosso", inicia deste modo o "Histórico" sobre a fundação:
"Em 1872, a quasi dezerta região meridional da então Provincia de Matto Grosso, comprehendia, apenas, na vastidão dos seus trezentos mil kilometros quadrados, approximadamente, as villas de Miranda, outr'ora presídio do mesmo nome, fundado em 1797, e Sant'Anna do Paranayba, alem das povoações de Nioac e Coxim."
Mais adiante, quando se refere à destruição da roça de José Antônio Pereira por uma nuvem de gafanhotos, e suas dificuldades para conseguir alimentos, faz alusão ao morador mais próximo do local, nos seguintes termos:
"Distava doze legoas o morador mais próximo, proprietário de uma fazenda que a invasão inimiga fizera abandonar por alguns annos, tornando-a tapera, o gado perdido, internado nas selvas, volvido feróz.
Era alli que ia supprir-se Pereira da sua principal alimentação, que era a carne dos vaccuns bravios comprados a 15$000 e abatidos a tiros, em verdadeiras caçadas."
Na altura em que comenta sobre a chegada de outros, que vieram somar-se a José Antônio Pereira, escreve:
"No ano seguinte, José Antônio Pereira regressou a Monte Alegre, deixando o seu rancho e a sua lavoura incipiente entregues a João Nepomuceno, com quem se associara.
Nepomuceno era caboclo de Camapuã, um arraial que morria, situado na antiga Fazenda Imperial do mesmo nome, nas cabeceiras do Coxim, e que ali aparecera, "de muda" para Miranda, quebrando a monotonia do ermo com dois carros de bois que o peso da carga fazia chiar nos eixos."
E ainda:
"A enorme extensão das terras não occupadas, a sua optima qualidade para cultura e creação e, sobretudo, o clima amenissimo, elementos seguros de prosperidade, fizeram a attracção de innumeras pessoas, vindas não só de Minas, como de S. Paulo, Rio Grande do Sul e outras províncias."
Historiando o retorno do Fundador, usa as seguintes palavras:
"Só em 1875 voltou José Antônio, trazendo sua família (...) Em busca, não mais do desconhecido, mas de uma região habitada apenas por tribos selvagens e animais ferozes..."
Paulo Coelho Machado, em "A Rua Velha", descreve assim, o primeiro contato de José Antônio com a terra que escolhera para se fixar:
"Na fria madrugada do dia seguinte ao da chegada, José Antônio verificou, com olhos experientes, que havia chegado a seu destino. Não era preciso caminhar mais. Não só aprazível era o lugar, como possuía vegetação luxuriante, indicadora da fertilidade da terra. Um pequeno passeio pelos arredores confirmou o acerto do local escolhido. Terra argilosa, vermelha e roxa, com abundante cobertura, ideal para a lavoura, campinas sem fim, eriçadas de capões, para a criação de milhares de reses. Água abundante. Estava definitivamente escolhido o local."
"Nesse mesmo dia (...) José Antônio chamou os companheiros e comunicou-lhes a resolução. Iniciaram então a faina para a construção do primeiro rancho, localizado na forquilha das águas, justamente na parte mais baixa da região."
Acyr Vaz Guimarães, em "Mato Grosso do Sul, Sua Evolução Histórica", escrevendo sobre a ocupação do território sul-mato-grossense no decorrer do século XVIII, assim se expressa:
"Tudo era sertão, apenas índios por todas as partes, desde o extremo sul, onde estavam os caiuás, até as divisas com as terras de Goiás, onde estavam os caiapós. Os guaicurus varavam todo o pantanal (...) Os paiaguás não saíam em terra, mas corriam todo o rio Paraguai (...)
Nem mesmo a abundância de gado nativo e campo farto para a criação em clima bom, terras boas, de rios navegáveis, fazia alguém aportar ao grande território, onde só índios viviam."
Na mesma obra, agora descrevendo fatos ocorridos em meados do século XIX, décadas de 50 e 60, relativos ainda à ocupação do sul da Província de Mato Grosso:
"Com soldados em maior número, que passavam a policiar a região, por caminhos que se abriam, os fazendeiros foram encontrando melhores maneiras para se comunicarem, atraindo, para o baixio e para a Vacaria, outros de outras províncias. Grandes áreas, todavia, continuavam despovoadas (...) o leste, em grande parte, até o rio Paraná (...) o conhecido Campo-Grande da Vacaria, de extensas campinas - larga área, portanto, sem caminhos e sem povoadores."
Fica evidente, a par dos escritos destes eminentes historiadores, que estes sítios da então Província de Mato Grosso, ao tempo da chegada de José Antônio Pereira, era solo de ninguém, área devoluta e sem habitantes. Constituída de excelentes terras para o cultivo e vastas campinas para a criação, guardou as suas potencialidades para serem feridas, à hora aprazada, pelas mãos daquele mineiro idealista, e transformadas em leiras fecundas, que acabaram brindando seus primeiros cultivadores, com produções de ótima qualidade.


MONTE ALEGRE DE MINAS


Eurípedes Barsanulfo Pereira


A história da fundação de Campo Grande está ligada a Monte Alegre de Minas, cidade do Triângulo Mineiro, de onde partiu José Antônio Pereira, naquele longínquo 1872. Suas origens guardam certas similaridades com as nossas.
"No começo do Século XIX, uma numerosa família mineira, cujo chefe era Martins Pereira, na tentativa de apossar-se de terras devolutas no Sertão de Goiás, empreendeu viagem de mudança para aquelas plagas inóspitas, seguindo corajosamente a caravana de aventureiros por um caminho aberto, que ligava parte da Capitania das Minas Gerais às terras goianas, naquele rumo.
Quando a caravana alcançava o ponto do caminho onde fica hoje a cidade, adoeceu gravemente um de seus membros, motivando essa fatalidade uma parada obrigatória de alguns meses. Sem recursos de remédios que o caso exigia, para combater a enfermidade, fervorosos devotos que eram de São Francisco das Chagas, o chefe da família fez então uma promessa ao Santo, de doar naquela localidade um terreno para a construção de uma Capela, que ali seria edificada em seu louvor, caso o doente recebesse o milagre da cura.
Foi recebida a Graça suplicada ao milagroso Santo. Por esse motivo resolveram não seguir viagem até que se colocasse em prática o que havia sido prometido.
Com a junção de outros aventureiros, que seguiram o mesmo itinerário, formaram uma agregação às famílias de Antônio Luiz Pereira, Gonçalves da Costa, Martins de Sá, Manoel Feliz e Cardosos. Esses primeiros povoadores, do arraial em formação, abrigaram-se em humildes ranchos, construídos na sua maioria de madeira, capim e palha de buriti, em ruelas abertas às margens dos córregos "Monte Alegre" e "Maria Elias", onde a servidão de excelente água era abundante nos regos derivados das nascentes.
Na extremidade do triângulo formado pela confluência desses veios de água, traçaram-se as primeiras ruas curvas da futura cidade, a quadra para a necrópole e a praça onde foi erguida a Capela de São Francisco das Chagas, o Padroeiro da Povoação."
José Antônio Pereira, nascido em Barbacena em 1825, após casar-se com Maria Carolina de Oliveira em São João Del-Rei, acabou fixando residência no Arraial de São Francisco das Chagas do Monte Alegre, em meados do século XIX. Ali nasceram e cresceram seus filhos, casaram-se as filhas Maria Carolina e Ana Constança, respectivamente, com os irmãos Antônio Gonçalves Martins e Manoel Gonçalves Martins, filhos de fundadores daquele Povoado. Mais tarde, sua neta Maria Joaquina acabaria se consorciando com Tomé Martins Cardoso, filho, também, de fundadores de Monte Alegre.
Naquela época, seu filho Antônio Luiz Pereira, no verdor da mocidade, mantinha, segundo relato de seus familiares, não pequeno círculo de amizades, em razão de seu espírito comunicativo de violeiro. Quando partiu definitivamente de Monte Alegre, lá deixou, segundo as mesmas fontes, namorada abanando "lencinho branco", no momento da despedida.
Tão marcante foi sua presença em seu torrão natal, que décadas mais tarde, dos familiares, apenas seu nome sobreviveu na memória dos moradores mais antigos, e nos relatos dos historiadores daquela cidade. 
Embora plenamente integrada à comunidade local, a família de José Antônio Pereira estava se multiplicando em numerosa prole. Esse fato levou-o a procurar uma região onde pudesse obter terras para todos. Bem que poderia ser nos sertões de Goiás. Vários desbravadores mineiros haviam para lá se dirigido, e acabaram se estabelecendo em fazendas no Planalto Central.
Um acontecimento importante, nessa altura, veio determinar a disposição de José Antônio Pereira para uma aventura rumo a solos mais distantes: a Guerra do Paraguai e a Retirada da Laguna.
A coluna do Exército Brasileiro que veio defender o território sul-mato-grossense, naquele triste conflito, fez bivaque no lugar denominado Pimenta, nas cercanias do Arraial de São Francisco das Chagas do Monte Alegre, tendo chegado ao Povoado às onze horas do dia quatorze de setembro de 1865. 
O Visconde de Taunay descreveu o lugarejo no livro Marcha das Forças (Expedição de Matto Grosso) 1865-1866 - Do Rio de Janeiro ao Coxim:
"Esta povoação do termo do Prata conta 400 a 500 habitantes e algumas casas commodas, caiadas e cobertas de telhas. A matriz offerece simples apparencia e fecha uma pequena praça rodeada de palhoças. O commercio, quasi nullo, se mantem, embora em muito insignificante escala, pela passagem, hoje rara, de lotes de animaes." (3)
Jovens moradores e filhos de Monte Alegre acabaram sendo recrutados e reforçaram a tropa dos Voluntários da Pátria, para a guerra. A presença de soldados monte-alegrenses foi registrada pelo historiador Alaor Guimarães Mendonça. (1)
Conta-nos que Eliziário Ribeiro de Vasconcelos, octogenário na década de 70, conhecido como Caboclo, lembra-se de que muitos de seus parentes e amigos estiveram entre os que participaram da expedição até o Paraguai. Os soldados Pedro Paraguaio e Martinho Paraguaio, cujos sobrenomes são originados da guerra, também participaram e retornaram para Monte Alegre, ficando naquela cidade até a morte. João Lopes e Patrocínio Franklin Pinto, estão igualmente entre os monte-alegrenses que integraram as forças que marcharam até o País vizinho, e participaram da Retirada da Laguna.
Acompanhando as tropas brasileiras, porém como carreiros, fornecedores de gêneros alimentícios e outras mercadorias, e que sofreram toda uma série de privações, incluem-se Joaquim Nunes, Antônio Miranda e Feliciano Nogueira Mendes Teixeira, este, apelidado "Coelho Nogueira"; todos originários de Monte Alegre. 
Esses homens, heróis da campanha da Laguna, acabaram, em seu retorno, comentando sobre as terras situadas ao sul da antiga Província de Mato Grosso. Os campos grandes da Vacaria tornaram-se, então, notícia corrente no Sertão da Farinha Podre, região mineira que abrangia os povoados da Prata e Monte Alegre.
Motivado por essas informações, José Antônio Pereira resolveu buscar essas terras, escolhendo trilhar parte dos caminhos que haviam sido percorridos pelos Voluntários da Pátria, a partir do Arraial de São Francisco das Chagas do Monte Alegre, atual Monte Alegre de Minas.




História da fundação de Campo Grande


Epaminondas Alves Pereira (1904-1988), bisneto de José Antônio Pereira, nasceu aos 22 de dezembro, em Campo Grande. Ficou órfão de pai aos 3 anos de idade, sendo criado a partir de então, como verdadeiro filho, por seus avós maternos Antônio Luiz Pereira (filho de José Antônio Pereira) e Anna Luiza de Souza (filha de Manoel Vieira de Souza), até aos 16 anos.
Comenta-se, entre seus familiares, que Epaminondas, alguns primos, e tios, costumavam ouvir atentamente os relatos de Antônio Luiz sobre suas viagens, desde a primeira, entre Minas Gerais e o Campo Grande, em companhia do Fundador. Também os da vovó Anna Luiza, sobre a viagem de sua família, desde Prata (MG), tendo à frente "Manoel Olivério", seu pai.


HISTÓRIA DA FUNDAÇÃO DE CAMPO GRANDE
Todo campo-grandense deve guardar, em sua alma, indelével gratidão a Rosário Congro. Nomeado por Dom Aquino para a Intendência do Município em 1918, aqui chegou com a missão de apaziguar os ânimos de concidadãos dissidentes e colocar a casa em ordem. Permaneceu no cargo por curto período, pouco mais que um ano, logrando atingir seu desiderato.
Além da administração íntegra e profícua, fez publicar um livro memorável (1), o primeiro no gênero por estas paragens (*), contando sobre a origem da cidade. Essa obra trouxe a lume as primeiras descrições da área do rossio e informações sobre as múltiplas atividades desenvolvidas na região, com suas respectivas estatísticas. É uma relíquia, pois contém o primeiro relato histórico sobre a fundação de Campo Grande, escrito por quem se encontrava cronologicamente bem perto dos fatos. Baseando-se em apontamentos particulares obtidos junto aos descendentes diretos de José Antônio Pereira, entre eles, os próprios filhos do Fundador, e também, em depoimentos dos moradores mais antigos, Rosário Congro teve a primazia de ser o pioneiro na historiografia da cidade.
Por todos estes motivos, não poderíamos deixar de transcrever excertos da publicação que este ínclito homem público nos deixou, especialmente sua parte inicial, onde descreve magistralmente os acontecimentos que culminaram com o surgimento de nossa terra, então cognominada: "Pérola do Sul".


ROSÁRIO CONGRO [São Paulo, SP (10-09-1884) - Três Lagoas, MS (11-10-1963)]. Advogado Provisionado; destacado Político no, então uno, Estado de Mato Grosso, tendo sido eleito Vereador em Corumbá, Deputado Estadual e depois Prefeito de Três Lagoas; virtuoso Escritor, tanto na Prosa como no Verso, ocupou a Cadeira de número 40 da Academia Matogrossense de Letras, tendo como patrono o Pe. Armindo Maria de Oliveira; Historiador, Membro Efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso; presidiu o Tribunal de Contas de Mato Grosso; nomeado pelo Presidente do Estado, Dom Francisco de Aquino Corrêa, Intendente do Município de Campo Grande, durante os anos de 1918 e 1919, foi o primeiro Historiador da Cidade. Fez publicar em 1919 o livro "O MUNICIPIO DE CAMPO GRANDE - ESTADO DE MATTO GROSSO", cujo capítulo inicial, de sua própria lavra, contém a História da Fundação. Publicou ainda: "Inaiá" (1940), "Torre de Marfim" (1948), "Sombras do Ocaso" (1953), "Antes de Raposo Tavares" (1954), "Colunas Partidas" (1955), "Outras Ruínas" (1957), "Últimos Caminhos" (1963); e, como obras póstumas: "Poesias - Coletânea" (1984) e "Prosa - Coletânea" (1984).






O MUNICÍPIO DE CAMPO GRANDE


HISTÓRICO


Rosário Congro


Em 1872, a quase deserta região meridional da então Província de Mato Grosso, compreendia, apenas, na vastidão dos seus trezentos mil quilômetros quadrados, aproximadamente, as vilas de Miranda, outrora presídio do mesmo nome, fundado em 1797, e Santana do Paranaíba, além das povoações de Nioaque e Coxim.
A invasão paraguaia, levando às poucas e longínquas fazendas, como por toda a parte, o saque, o incêndio, a morte, os horrores da guerra, em fúria selvagem, devastara grande parte do imenso distrito de Miranda, dando lugar a que nas suas planícies e nos seus montes e nos seus rios, se realizasse a dolorosa trajetória da coluna de heróis e de mártires comandada pelo coronel Camisão e, nos Dourados, o sacrifício homérico de Antônio João.
Expulso o invasor do solo sagrado da pátria, morto Solano Lopes, o tirano, acuado nas cordilheiras de Aquidaban, voltavam, para a reconstrução dos seus penates os que, conseguindo escapar à sanha do inimigo sanguissedento, se haviam refugiado nas alturas da serra de Maracaju.
Foi então que José Antônio Pereira, velho sertanejo mineiro, já sexagenário (**), deixando o seu arraial de Monte Alegre, nas proximidades de Uberaba, se fez com destino a Mato Grosso com seus filhos Antônio Luiz e Joaquim Antônio (#) e quatro "camaradas", em busca de terras devolutas para lavoura e criação.
Pelo entardecer de 21 de junho, chegava a pequena comitiva à confluência dos córregos mais tarde denominados "Prosa " e "Segredo", no lugar onde está situado, hoje, o Matadouro Municipal, ponto escolhido para o pouso daquele dia e depois definitivamente adotado.
Em breve ali se ergueu a morada dos intrépidos viajores: um pequeno rancho coberto com palmas de "uacury", célula primordial que foi da progressista cidade de hoje, mui justamente chamada - a Pérola do Sul.
Não tardou a derrubada pelas imediações, o fumo da queimada em pouco se elevou e, em tempo curto, tremulavam, à viração constante, as flâmulas verdes e promissoras da primeira roça.
Por entre o milharal, outros cereais cresciam, num viço que atestava a feracidade extraordinária do solo.
O primeiro contratempo, porém, não se fez esperar: extensa e escura nuvem de gafanhotos, pousando, dera cabo da luxuriante plantação, mas, o espírito forte, inquebrantável de José Antônio Pereira, caldeado nas vicissitudes da vida, não se abateu ante a destruição produzida pelos terríveis insetos.
Distava doze léguas o morador mais próximo, proprietário de uma fazenda que a invasão inimiga fizera abandonar por alguns anos, tornando-a tapera, o gado perdido, internado nas selvas, volvido feroz.
Era ali que ia suprir-se Pereira da sua principal alimentação, que era a carne dos vacuns bravios comprados a 15$000 e abatidos a tiros, em verdadeiras caçadas.
Com a carne, para cuja conservação a secagem substituía a absoluta carência de sal, a caça, que era abundante, o mel recolhido nas matas e morangas e abóboras, não atingidas pela praga dos ortópteros, constituíram o passadio daqueles valentes sertanejos.
Bem fácil é imaginar a tristeza que aquelas almas envolvia, quando as sombras da noite desciam sobre a terra. Um fogo no terreiro, sons plangentes de uma viola tangida com sentimento, uma cantiga dolente repassada de infinita saudade, depois... a nostalgia, o silêncio profundo do deserto!
E, cortadas de quando em vez pelo rugido do jaguar, como eram longas as noites, sem o canto do galo anunciando o clarear do dia, e vazias as manhãs, sem o mugir do gado!
No ano seguinte, José Antônio Pereira regressou a Monte Alegre, deixando o seu rancho e a sua lavoura incipiente entregues a João Nepomuceno, com quem se associara.
Nepomuceno era caboclo de Camapuã, um arraial que morria, situado na antiga Fazenda Imperial do mesmo nome, nas cabeceiras do Coxim, e que ali aparecera, "de muda" para Miranda, quebrando a monotonia do ermo com dois carros de bois que o peso da carga fazia chiar nos eixos.
Só em 1875 voltou José Antônio, trazendo sua família composta de sua mulher Maria Carolina de Oliveira, seus filhos Antônio Luiz, Joaquim Antônio, Francisca, Persiliana, Constança, Anna, Rita, Maria Nazareth e três tutelados, e mais as de Manoel Gonçalves Martins, João Pereira Martins, Antônio Ferreira e Joaquim Olivério de Souza, além de muitos agregados.
Em busca, não mais do desconhecido, mas de uma região habitada apenas por tribos selvagens e animais ferozes, se pôs a caminho a caravana dos modernos bandeirantes, dos audazes pioneiros da civilização em tão belas, porém incultas paragens.
Compunha-se ela de 62 pessoas ao todo, com seis (##) pesados "carros mineiros", nos quais vinha não pequena provisão de tudo quanto pudessem necessitar, além de sementes diversas e mudas de cana-de-açúcar, café e outras plantas, devidamente acondicionadas.
Era seu guia, por mais curtos caminhos, o prático Luiz Pinto Guimarães, cuiabano, então residente em Uberaba, e seis longos meses foram consumidos nessa penosa e arriscada empresa, verdadeira cruzada em marcha para a solidão.
Ao transpor a comitiva as águas do Paranaíba, muitos dos seus membros foram acometidos de "matadera", uma febre "maligna", aniquiladora até a morte, endêmica naqueles sítios.
Esta desagradável ocorrência, obrigou José Antônio à demora de um mês e meio na vila de Santana.
Espírito eminentemente religioso e fervoroso devoto do taumaturgo de Pádua, o velho mineiro, a despeito da aplicação de "raizadas" aos enfermos, no que era experimentado, concentrou-se um momento e, cheio de fé, balbuciou a piedosa promessa de erigir, no ponto do seu destino, uma capela em glorificação a Santo Antônio.
Fundos sulcos de simpatia deixou José Antônio Pereira entre os habitantes de Santana, dos quais conquistara estima e gratidão, pelas curas desinteressadas que ali fizera, quando, sem que tivesse perdido um só dos seus doentes, se pôs de novo a caminho dos admiráveis campos de Maracaju.
A 14 de agosto chegou o comboio dos destemidos viajores ao termo da sua jornada, não mais encontrando Nepomuceno, que fora substituído, na posse das benfeitorias realizadas, por Manoel Vieira de Souza, chegado meses antes em busca, também, de terras devolutas, e a quem tudo vendera por 300$000.
Não tardou que pela margem direita do córrego depois chamado "Prosa", se alinhassem os ranchos dos novos moradores.
Os dias corriam felizes para aqueles abnegados povoadores do sertão, longe dos centros populosos onde a civilização oferece todo o conforto da vida moderna, mas onde a flor do mal viceja enganadora.
A cornucopia de Ceres espalhava pelos habitantes do povoado nascente os abundantes frutos da gleba feracíssima.
À noite, em volta ao fogo no terreiro, contentes do trabalho, espoucavam eles em canto e riso e danças, em alegria, enfim, aos sons cadenciados das violas, pandeiros e concertinas, o que constituía um regalo para os pacíficos "coroados", atentos espectadores por entre os ramos da mata fronteira, na margem oposta, e que se punham em fuga ao serem pressentidos.
Corria o ano de 1879 e era chegada a vez de José Antônio Pereira cumprir o seu voto.
Preparados os esteios, de rígida aroeira, e sob a invocação de Santo Antônio do Campo Grande, em referência às vastas campinas visinhas, levantou-se em breve a capela, construída de taipa e coberta de palmas, bem como o tosco e alto cruzeiro que ainda se ostenta no adro.
Não descançou, porém, enquanto a não viu coberta de telhas de barro, indo ele mesmo buscá-las ao abandonado Camapuã, distante trinta e cinco léguas, das ruínas de um templo centenário ali erigido pelos jesuítas, em época remota.
Tempo depois o padre Julião Urchia, vigário de Miranda, sagrando-a, celebrava o sacrifício da primeira missa ouvida sob o seu teto, e nela realizava o batismo de muitas crianças nascidas no arraial e também o consórcio de Antônio Luiz Pereira com D. Anna Luiza Pereira, filha de Manoel Vieira de Souza.
Para comemorar tão auspicioso acontecimento se fazia necessário, imprescindível mesmo, que um festivo repique elevasse aos céus, em hosanas, os seus metálicos sons.
Um recipiente de ferro batido, então, suspenso a uma trave, tangido por improvisado sacristão, acordou os ecos em alegre bimbalhar...
José Antônio dotou a ermida, logo depois, de um pequeno sino mandado adquirir em Corumbá, e a gente boa e simples do povoado, ao toque do sagrado bronze, reunia-se para as rezas em coro, cantadas a Deus.
Em 1888, recebia a capela um outro sino, dádiva de João Pereira Martins, e são os que ainda hoje, vibrando, chamam os crentes à oração do dia.
Amiudadamente, o velho cura de Miranda, de Nioac depois, visitava a povoação, realizando casamentos, batizados e festividades religiosas.
Os córregos, àquele tempo, tiveram também as suas pitorescas denominações: - originaram-se elas, para o que rola as suas margens, em pequenos saltos, das elevações de Leste, na loquacidade dos moradores, reunidos a miúde à sua margem, "ferrados na prosa" em costumado e aprazível ponto, sob a copa enorme de uma figueira brava, e, para o que tem as suas cabeceiras nos espigões do Norte, por não ter João Pereira Martins "guardado segredo" de ocultos intuitos de Joaquim Olivério, revelação que teve no lugarejo a retumbância de seu primeiro escândalo.
No local da atual praça Municipal, construiu-se naquele mesmo ano o irregular cercado do pequeno cemitério, mais tarde ampliado e transferido por José Antônio Pereira, verdadeiro patriarca, para a encosta de Oeste, onde ainda existe, em abandono, e do qual se descortina o belo panorama da cidade.
Nesse modesto campo-santo, tomado pela capoeira, jaz, esquecida, a cova rasa de José Antônio Pereira, falecido a 8 de janeiro de 1910 (+).
A enorme extensão das terras não ocupadas, a sua ótima qualidade para cultura e criação e, sobretudo, o clima ameníssimo, elementos seguros de prosperidade, fizeram a atração de inúmeras pessoas, vindas não só de Minas, como de São Paulo, Rio Grande do Sul e outras províncias. (...)




JOSÉ ANTÔNIO PEREIRA


Eurípedes Barsanulfo Pereira


Para se traçar o perfil de José Antônio Pereira basta seguir a sabedoria milenar e procurar conhecê-lo através de suas obras. Todo artífice deixa sua marca na obra que realiza. Podemos assim identificá-lo nos diversos aspectos do trajeto de sua vida, desde Barbacena, passando por São João Del-Rei e Monte Alegre, nas Minas Gerais, até chegar ao centro da região sul da antiga Província de Mato Grosso. A história de sua vida se confunde, portanto, com a da fundação do Arraial de Santo Antônio do Campo Grande.
O filho de Manoel Antônio Pereira e Francisca de Jesus Pereira, nascido na cidade de Barbacena (antigo Arraial de Nossa Senhora da Piedade da Borda do Campo) em 19 de março de 1825, descende dos Pereira, portugueses que se transferiram para o Brasil, cujas histórias se perderam nos séculos que se seguiram ao descobrimento de nossa Pátria. Já moço, muda-se para São João Del-Rei (originado do Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar), e se casa com a jovem Maria Carolina de Oliveira.
Desejando estabelecer-se definitivamente em lugar onde pudesse desenvolver suas atividades de pequeno agricultor e pecuarista com sua família nascente, transfere-se em meados do século dezenove para o povoado de São Francisco das Chagas do Monte Alegre, pertencente ao então denominado Distrito da Farinha Podre.
Fundada no início dos anos 1800 por uma numerosa família mineira que, na tentativa de apossar-se de terras devolutas no sertão de Goiás, acabou fixando-se naquela região do Triângulo Mineiro, Monte Alegre se situa no caminho que ligava a Capitania das Minas Gerais às terras goianas. Terminaram assentando, também, residência no local, naquela época, outros aventureiros que seguiram o mesmo itinerário; como as famílias de Gonçalves da Costa; Martins de Sá; de Manoel Feliz e dos Cardosos.
A família de José Antônio Pereira e de Maria Carolina de Oliveira, com o desenvolvimento de seus filhos Antônio Luiz, Joaquim Antônio, Francisca, Maria Carolina, Perciliana, Ana Constança, Maria Nazareth e Rita, começou a crescer. Casaram-se Ana Constança com Manoel Gonçalves Martins e Maria Carolina com Antonio Gonçalves Martins. A impossibilidade de se expandir nas atividades rurais, com espaço para todos, fez com que procurassem outras alternativas, entre elas a ocupação de terras devolutas.
Finda a Guerra do Paraguai, com o retorno para o Brasil dos soldados que se retiraram da região da Laguna, cuja saga foi descrita magistralmente por Taunay, notícias sobre os campos da Vacaria foram levadas até Monte Alegre por ex-combatentes oriundos dessa cidade, um pequeno Arraial àquele tempo. A existência de extensas áreas de terras devolutas ao sul da Província de Mato Grosso atraiu o interesse de José Antônio Pereira que, em 4 de março de 1872, empreendeu sua primeira viagem. Prudentemente, formou uma pequena comitiva, composta por seu filho Antônio Luiz, dos escravos João Ribeira e Manoel, guiados por Luiz Pinto Guimarães, sertanista que havia participado da referida guerra. Seguindo os caminhos percorridos pela expedição da Laguna, adentra Goiás, passando pelo porto de Santa Rita (hoje Itumbiara), cruzando posteriormente o Rio dos Bois e dirigindo-se à Vila das Dores do Rio Verde (hoje, Rio Verde), até chegar à região de Baús, em Mato Grosso (atualmente Costa Rica), daí em direção a Coxim, contornando o extremo norte da Serra de Maracaju e rumando para o sul, até Camapuã.
Continuando sua viagem, procura atingir a região da Vacaria (atual município de Rio Brilhante). Porém, quase em meio caminho, já atravessando a extensa e erma região do Campo Grande, defronta-se com terras de ótima qualidade e campos propícios para a pecuária. Eram, enfim, as sonhadas terras devolutas que José Antônio Pereira estava procurando. Ao chegar, em 21 de junho de 1872, à confluência de dois córregos, denominados, mais tarde, "Prosa" e "Segredo", resolve ali se estabelecer. Constrói um rancho, cobrindo-o com folhas de buriti. Providencia, também, a formação de pequena roça, amanhando a terra pelo sistema da coivara.
Os meses se passaram. Após a primeira colheita de uma plantação vicejante, naquele mesmo ano de 1872, decide voltar a Minas Gerais para buscar seus familiares.
Em Monte Alegre, reúne-se com a família e pessoas de sua relação, expõe as perspectivas da região com tamanho entusiasmo que sensibiliza e convence a todos para a grande aventura.
Começa então o planejamento e as providências para tal cometimento. Mais de dois anos se passaram para que tudo estivesse organizado. Provisões indispensáveis para a longa viagem, sementes e mudas de árvores frutíferas, um lote de gado de cria, animais de montaria e carros mineiros puxados por juntas de bois. Para casos de doença, até remédios foram providenciados pelo próprio José Antônio, que tinha conhecimentos de fitoterapia e terapêutica homeopática, exercendo naqueles sertões longínquos o papel de verdadeiro médico, na falta de um facultativo.
À frente de uma numerosa comitiva, José Antônio Pereira escolhe desta vez seguir um caminho mais curto para chegar ao seu destino. De Monte Alegre, dirige-se para o sul, passando pelo povoado de Prata, indo mais além ao encontro de um caminho paralelo à margem direita do Rio Grande, divisa da Província de Minas com a de São Paulo, e que permitia chegar à de Mato Grosso, situada à oeste. Esse trajeto os leva até as margens do Rio Paranaíba e ao patrimônio de Sant'Anna de Paranahyba (atual Paranaíba), no território mato-grossense. Para atravessar aquele rio, já havia, então, uma balsa rudimentar, que possibilitava o transporte de carretas e animais.
Permanece por vários meses naquela localidade, ajudando a debelar um surto de malária. Ali, seus préstimos, como prático da medicina, contribuíram para salvar muitas vidas. Nessa ocasião, fez a promessa de construir, quando chegasse ao seu destino, uma igreja em homenagem a Santo Antônio de Pádua, de sua devoção, caso nenhum dos seus perecesse. Recebe o convite para estabelecer-se definitivamente no povoado, mas José Antônio, fiel ao compromisso assumido, e ao ideal que acalentava de chegar às terras do Campo Grande, retoma a marcha rumo à oeste. Atravessa o rio Sucuriú, o São Domingos, o Verde e a cabeceira do Pardo, passa outra vez por Camapuã, e depois, em direção ao sul, busca o pequeno sítio que formara há quase três anos.
Aos 14 de agosto de 1875, chega finalmente ao local de destino. José Antônio não encontra o zelador que ali deixara, mas sim, a família de Manoel Vieira de Souza (Manoel Olivério), mineiro de Prata (antigo povoado de Nossa Senhora do Monte do Carmo, do Distrito da Farinha Podre) que igualmente fora atraído para estas plagas, pelas notícias da Vacaria, e que estava no local há cerca de dois meses. É recebido cordialmente, com a intenção manifesta de Manoel Olivério de devolver-lhe a propriedade. José Antônio Pereira, idealista e cordato, propõe-lhe parceria nas atividades a desenvolver. Logo se tornam amigos, e as famílias acabam se unindo três anos depois (quatro de março de 1878), com os casamentos de Manoel Olivério com Francisca de Jesus (filha de José Antônio), de Antônio Luiz com Anna Luiza e Joaquim Antônio com Maria Helena, filhos de José Antônio e filhas de Manoel Olivério, respectivamente. A pequena igreja, construída por José Antônio, em cumprimento a sua promessa, é inaugurada com o ato religioso desses enlaces, que é oficiado pelo Padre Julião Urchia, vindo de Nioac especialmente para esse fim.
Ainda em 1878, José Antônio retorna a Monte Alegre, pela derradeira vez, e traz consigo seu genro, já viúvo, Antônio Gonçalves. Em sua volta, reassume o comando do povoado nascente, divide as terras para a propriedade de seus filhos, genros, e também para si. Delimita a área reservada para a sede do patrimônio, denominando-o Arraial de Santo Antônio do Campo Grande. Torna-se o primeiro Subdelegado de Polícia.
Em 28 de setembro de 1886, recebe e hospeda, em sua casa, o Bispo de Cuiabá, D. Carlos Luís d'Amour, que permaneceu no povoado por cinco dias.
A dedicação de José Antônio aos que adoeciam no emergente Arraial de Santo Antônio do Campo Grande era reconhecida por todos. Não se limitava apenas à preparação e administração de ungüentos, pomadas, xaropes, tinturas, chás e garrafadas, mas também ao cuidado dos que se feriam em acidentes. Aos fraturados, encanava-lhes os membros; aos feridos, pensava-lhes as chagas. Sua fama como parteiro era voz corrente, tendo assistido ao nascimento de seus filhos. Mais tarde passou a contar com a ajuda de uma velha escrava, a quem houvera treinado. Posteriormente, ensinou os ofícios para a própria nora, Maria Helena, esposa de Joaquim Antônio. Secundado por esta, sempre quando chamado, corria a atender às parturientes da Vila. Esse mister deu-lhe, também, a primazia de seccionar o cordão umbilical de muitos de seus netos.
A tradição oral que, através dos familiares, chega aos nossos dias, dá conta da existência das mezinhas de José Antônio, cujos recursos permitiam-lhe exercer sua medicina. A aquisição desse preparo técnico remonta aos tempos de sua vida em São João Del-Rey e Monte Alegre, nas Minas Gerais. Apoiado no seu Chernoviz, praticava a medicina de "folk", disseminada pelos sertões brasileiros; ou seja, a cultura popular do tratamento das doenças. Baseada, como até hoje, na utilização dos recursos químicos das plantas, através de variegadas tisanas, tais como: soluções, macerações, infusões e decocções; e de procedimentos eminentemente físicos, como a manipulação do calor, nos escalda-pés (pedilúvio), e do vácuo, através de ventosas. As aplicações de cataplasmas, emplastros, compressas, adjutórios, banhos-de-assento, colutórios, gargarejos e inalações, incluiam-se, também, nessa prática terapêutica.
A abordagem dos doentes não era realizada com instrumentos da semiologia médica. Os meios diagnósticos eram apenas breve interrogatório e a ectoscopia, corroborados pelo experiente "olho clínico" do velho mineiro, como sói acontecer na prática dessa medicina sertaneja.
Da figura do Fundador nos derradeiros anos de sua vida, com a longa barba branca e os cabelos encanecidos, emergia um ser que mesclava, simultaneamente, austeridade e doçura. À semelhança daqueles que fazem da arte de curar verdadeiro sacerdócio, sua simples presença emanava um magnetismo contagiante. Apenas ao toque de suas mãos, os doentes já começavam ter as sensações de melhora. Na verdade era, também, exímio benzedor. Não poucas vezes as mães levavam seus bebês acometidos de "quebranto" para serem benzidos pelo Velho.
Todos esses fatos, que atestam sua impressionante versatilidade no manejo das coisas da terra e das gentes, acabaram por consagrar José Antônio Pereira, não só como Fundador e Líder, mas sobretudo, como o primeiro cuidador da saúde, do povoado nascente.
Em 11 de janeiro de 1900, morre José Antônio Pereira, sendo sepultado em cemitério que se localizava no bairro Amambaí, onde atualmente encontram-se construídos o SENAI e a Casa da Indústria. Tempos depois seus ossos foram transferidos para o jazigo da Família, no Cemitério Santo Antônio, onde se acham depositados, com os restos mortais de seus filhos e netos.
José Antônio Pereira foi um homem dedicado à família, um verdadeiro patriarca, prudente, organizado, justo e destemido. Católico fervoroso e piedoso devoto de Santo Antônio de Pádua. Possuidor de um profundo senso humanista, afinado sentimento coletivista, e pelo seu carisma, um líder inconteste. Aquele homem, de tez clara e olhos azuis, esguio e forte, cujas mãos eram calejadas pela labuta rural, e também afeitas ao mister de curar, procurou o Campo Grande, não para construir um imensurável e improdutivo latifúndio, mas, em busca de terras devolutas, suficientes para estabelecer-se com os seus, e com aqueles que se afinavam com seus ideais. Após longas e cansativas viagens, despendendo gigantescos esforços, enfrentando as intempéries e as doenças, desafiando os sertões, palmilhando caminhos ermos e desconhecidos, acabou chegando para ficar em definitivo e multiplicar por aqui suas raízes familiares, fazendo nascer um pequeno povoado, hoje grande metrópole.
Esta é a história de José Antônio Pereira, o intrépido fundador de Campo Grande, Capital do Estado de Mato Grosso do Sul.
O objetivo de José Antônio Pereira era chegar às terras da região da Vacaria, ao sul da Província de Mato Grosso. Para isso, deveria seguir grande parte do caminho percorrido, em 1865/1866, pela coluna do exército brasileiro que combateu na Guerra do Paraguai, e que, partindo de Campinas, São Paulo, passando por Minas Gerais e Goiás, chegou ao palco de guerra, no território sul-mato-grossense.


PREPARATIVOS


A jornada seria longa, sendo assim, José Antônio preparou uma tropa de cerca de uma dúzia de animais, entre os de montaria e os de carga, com arreamento conveniente para o transporte de alimentos, remédios e sementes. Era imprescindível a presença de um bom guia, conhecedor dos caminhos, que os levasse aos famosos campos da Vacaria. Para tanto, foi contratado o sertanista Luiz Pinto Guimarães, residente em Uberaba e que havia acompanhado a expedição brasileira que participou da campanha da Laguna. Alguns meses se passaram até que tudo estivesse em ordem: planos de viagem, meios de locomoção e subsistência. Recursos financeiros não foram esquecidos, para as eventuais despesas durante o percurso. Até a melhor época para o empreendimento foi pensada, o outono, porque entre os meses de março e junho, as estiagens são mais longas, facilitando a travessia, a vau, dos rios ao longo do trajeto.


A PARTIDA: MONTE ALEGRE DE MINAS
José Antônio, juntamente com seu filho Antônio Luiz Pereira, o guia Luiz Pinto e dois escravos, partiu de Monte Alegre de Minas em 4 de março de 1872, uma segunda-feira.
Vamos nos transportar àquele tempo, com a ajuda do Visconde de Taunay, que relatou* detalhadamente a viagem da coluna do exército brasileiro em suas "CARTAS DA CAMPANHA DE MATTO GROSSO (1865 A 1866)" (1) e em "MARCHA DAS FORÇAS (EXPEDIÇÃO DE MATTO GROSSO) 1865-1866" (2). Segundo Epaminondas Alves Pereira, neto de Antônio Luiz, e que, com ele conviveu por cerca de 35 anos, ouvindo-lhe freqüentemente sobre suas viagens, o trajeto seguido por José Antônio foi muito semelhante ao descrito por Taunay, inclusive passando pelos mesmos povoados, para descanso e reabastecimento.
O Arraial de São Francisco das Chagas do Monte Alegre, daquela época, não deveria ser muito diferente do que descreveu Alfredo d'Escragnolle-Taunay, quando por ali passou, cerca de sete anos antes (em 14 de setembro de 1865):
"A 2 leguas do pouso, atravessa-se o córrego da Matta e, uma légua adiante entra-se, no arraial de Monte Alegre, onde chegamos ás 11 horas. Esta povoação do termo do Prata conta 400 a 500 habitantes e algumas casas commodas, caiadas e cobertas de telhas. A matriz offerece simples apparencia e fecha uma pequena praça rodeada de palhoças. O commercio, quasi nullo, se mantem, embora em muito insignificante escala, pela passagem, hoje rara, de lotes de animaes."
"Monte Alegre é um lugarzinho simpático de aspecto realmente risonho. Terá seus 400 ou 500 habitantes, algumas casas bastante boas, caiadas e de telhas. A Matriz é sumamente tosca. Diverti-me em lhe tirar uma vista. Muito pobrezinha com as suas torres e sua única porta a que dá acesso uma escadinha. O interior também de pobreza extrema, está bem de acordo com o movimento quase nulo do lugarejo de que é o mais importante edifício e a que animam as poucas tropas de cargueiros que por ali transitam. Acampamos um pouco adiante do arraial num lugar chamado Pimenta".
Deixando Monte Alegre, a pequena comitiva tomou o rumo noroeste, seguindo uma estrada que ligava Uberaba às terras goianas, através dos cerrados mineiros, e que passava pelo povoado de Santa Rita de Cássia, mais comumente chamado de Santa Rita do Paranaíba, situado à margem direita do rio Paranaíba, hoje Itumbiara, Goiás. Completavam, desse modo, um percurso de onze léguas (66 km).
A travessia do rio Paranaíba, àquela época, era através de uma pequena balsa, formada por duas canoas unidas por tábuas grosseiras, com a capacidade de levar 10 animais em cada viagem, e durava cerca de 40 minutos, de uma margem à outra. Era cobrada uma taxa de 700 réis por pessoa.


SANTA RITA DO PARANAÍBA (ITUMBIARA - GOIÁS)


Alcançam assim, a primeira etapa do percurso, Santa Rita, em Goiás, onde havia desde 1824, um porto com o mesmo nome, construído pelo português Cunha Mattos. Taunay descreve deste modo, os aspectos do povoado, em setembro de 1865:
"Ergue-se a povoação de Santa Rita de Cassia á margem direita do rio Paranahyba, estendendo as suas primeiras casas no declive da rampa que leva ao porto, onde aproam as barcas de passagem. A sua fundação é moderna; há vinte e tantos annos ahi se estabeleceram alguns mineiros exploradores, dando princípio a um arraial que foi erecto em freguezia no anno de 1850. O movimento commercial é quasi nullo; apenas alguma passagem e recovas carregadas de sal, com destino a Goyaz, tiram-na momentaneamente da atonia e estagnação que a personificam." [pg. 84-85] (2)
A viagem de José Antônio Pereira prossegue em sentido noroeste, e o próximo obstáculo a ser transposto é o Rio dos Bois, 22 léguas (132 km) além de Santa Rita do Paranaíba. A sua largura de quase 170 metros, travessia perigosa em razão da correnteza, obriga a passagem através de canoas e os animais, "a vau de orelha".


VILA DAS DORES DO RIO VERDE (RIO VERDE DE GOIÁS)


Depois de cerca de 41 léguas (246 km) de jornada em pleno cerrado goiano, desde Santa Rita do Paranaíba, chegam então à Vila das Dores do Rio Verde, também denominada, àquela época, Vila das Abóboras, hoje Rio Verde.
"A estrada percorrida desde Santa Rita do Paranahyba até a villa das Dores não tem traçado regular: picada aberta pela necessidade de communicação recíproca entre os habitantes de algumas fazendas, offerece estado mais ou menos viável pela natureza dos terrenos e pelo transito regular que se tem ido estabelecendo entre aquelles dois pontos." 
A Vila das Dores, é assim descrita por Taunay, em 31 de outubro de 1865:
"A capella de Nossa Senhora das Dores ergue-se n'um alto que domina o povoado, cuja rua única é formada de palhoças, essas mesmas espaçadas e muitas já em ruínas.
Goza, comtudo, dos foros de villa, não correspondentes de certo com o estado que apresenta. A freguezia, porém, é bastante vasta: alguns fazendeiros de recursos habitam em sua área, e o caminho que a atravessa é hoje assaz animado pelo movimento das grandes boiadas que vão ter a Uberaba, dirigindo-se para o Rio de Janeiro." 


BAÚS (MUNICÍPIO DE COSTA RICA - MATO GROSSO DO SUL)


Agora, a comitiva de José Antônio toma a direção oeste, procurando chegar à região de Baús (no atual Município de Costa Rica, Mato Grosso do Sul), em pleno território da então Província de Mato Grosso, distante 54 léguas (324 km). A viagem dá-se ainda nos cerrados de Goiás, com a travessia do Rio Doce através de ponte ali existente. Atinge, depois, os rios Claro (nas imediações da atual cidade de Jataí) e Verde, atravessando-os em trechos cujas vaus permitiam a sua transposição. Chega enfim em Baús, onde havia uma fazenda à margem direita de ribeirão do mesmo nome. Vencido esse longo percurso, com inúmeras interrupções para refazimento e pernoites, teria feito também, a comitiva de José Antônio, parada de descanso naquela fazenda, como as forças brasileiras que combateram na Guerra do Paraguai?
Voltamos aos escritos de Taunay:
"Esta parada foi de obrigatória necessidade: as marchas cansativas e em dias seguidos tinham fatigado em excesso a força e feito perecer grande porção de animaes muares e cavallares. As bestas de transporte necessitavam ser tratadas e pensadas para poderem por mais tempo continuar viagem." 


A FAZENDA CAMAPUÃ (CAMAPUÃ - MATO GROSSO DO SUL)
A marcha de José Antônio Pereira para oeste continua, em cerrados da Província de Mato Grosso, na direção de Coxim, por caminhos já palmilhados, ora arenosos, ora argilosos, procurando sempre os espigões à montante dos rios. Inicialmente, através de uma ponte, atravessa o ribeirão Sucuriú (que se transformará, mais ao sul, no rio Sucuriú ao receber afluentes). Ultrapassa as cabeceiras do rio Jauru, e, seguindo as imediações da serra de Santa Marta e da serra Sellada, atravessa, a vau, os ribeirões afluentes, à direita, do rio Jauru. José Antônio Pereira, depois de vencer quase 40 léguas, chega ao extremo norte da serra de Maracaju, e se dirige para o sul, deixando à direita, as margens do rio Coxim, rumando em busca de Camapuã. Em "Céus e Terras do Brasil", Taunay, de retorno à Corte no Rio de Janeiro, descreve sua passagem por Camapuã:
"Ràpidamente transpusemos as três léguas que separam o Sanguessuga das ruínas de Camapuã, e ao meio-dia avistámos os restos, para assim dizer, imponentes daquela importante fazenda, sede outrora de muito movimento, de todo o que se dava por aquêles sertões. Ainda se vêem vestígios de grande casa de sobrado e de uma igreja não pequena; taperas rodeadas de matagais, no meio dos quais surgem laranjeiras e árvores frutíferas, que procuram resistir à invasão do mato e ainda ostentam frutos, como que atraindo o homem, cujo auxílio em vão esperam. Naquelas três léguas aparecem sinais de trabalhos consideráveis: estradas de rodagem atiradas por sobre colinas, caminhos roídos pelas águas, onde transitavam grandes procissões de carros a trabalharem na penosa varação, até o ribeirão Camapuã, dos gêneros e canoas que demandavam o Coxim e Taquari, com destino a Cuiabá. (...) manteve-se mais ou menos florescente até os princípios do século presente, existindo ainda escravatura numerosa às ordens do último administrador, Arruda Botelho, depois de cujo falecimento ficou o lugar abandonado ou tão-sòmente habitado por negros e mulatos livres, ou libertados pelo fato de não aparecerem herdeiros de seus possuidores.
Estes mesmos indolentes habitantes hoje estão quase todos reunidos a uma légua e três quartos de distância, no lugar chamado Corredor (...)" [pg. 88-89] (3)


EM BUSCA DOS CAMPOS DA VACARIA


Varando os cerrados do sul da Província de Mato Grosso, José Antônio Pereira, continua sua viagem, procurando chegar aos campos da Vacaria. Chega ao pouso do Jabota, passa através do Brejinho, pelo córrego Pontinha, Maribondo e Perdizes. Depois de percorrer quase 30 léguas, alcança o ribeirão das Botas.


Cavalgando ainda na direção sul, poucas léguas mais, em 21 de junho de 1872 chega à confluência de dois córregos, depois denominados: "Prosa" e "Segredo"; em área completamente desabitada da região do então denominado "Campo Grande". Este, estendia-se a partir dos campos da Vacaria, no sentido norte, e a leste das fraldas da serra de Maracaju.
Taunay, quando por aqui passou, em sua viagem de retorno a Corte, assim descreve esta região:
"Uma légua mais entramos no Campo Grande. Esta extensa campina constitui vastíssimo chapadão de mais de cinqüenta léguas de extensão, em que raras árvores rompem a monotonia duma planura sem fim (...)". 
Foram 3 meses e meio de viagem, percorrendo aproximadamente 180 léguas, de Monte Alegre de Minas ao Campo Grande.
Em 1875, à frente de uma comitiva de 65 pessoas, incluindo praticamente toda sua família, em doze carros mineiros, animais de montaria e de carga, e um lote de gado de cria, José Antônio Pereira deu início à segunda viagem rumo ao seu destino, a pequena propriedade que deixara no Campo Grande. Desta vez, o destemido sertanista resolveu seguir um caminho diferente, e menos longo, que passava pelo povoado de Sant'Anna do Paranahyba, na Província de Mato Grosso, junto à divisa com a de Minas Gerais.


VILA DA PRATA (PRATA - MINAS GERAIS)


Deixando Monte Alegre, tomou o rumo sul e, após a ultrapassagem do rio Tejuco a meio caminho, foi ter à Vila da Prata (hoje Prata, Minas Gerais), a cerca de 9 léguas de distância, no então chamado, Sertão da Farinha Podre. Naquele tempo, era um pouco maior que Monte Alegre, com sua primeira capela construída em 1811, quando tinha o nome de Arraial de Nossa Senhora do Monte do Carmo. A partir de 1848 passou a denominar-se Prata.
Vencida esta primeira etapa da viagem, com parada de descanso, retoma a jornada em sentido sudoeste. Transpõe, poucas léguas após, o rio da Prata. Procura atingir as proximidades da margem direita do Rio Grande, vadeando continuamente os afluentes à direita do rio Verde (de Minas), até chegar, quase 20 léguas depois, à freguesia de São Francisco de Sales, junto à divisa da Província de Minas com a de São Paulo.


FREGUESIA DE SÃO FRANCISCO DE SALES


Para ilustrar os caminhos percorridos por José Antônio Pereira, em sua segunda viagem, outra vez, iremos nos valer das narrativas* do Visconde de Taunay, constante da obra: CÉUS E TERRAS DO BRASIL (1), na qual relata, detalhadamente, sua viagem de retorno a Corte, desde o porto do Canuto, às margens do rio Aquidauana, até o Rio de Janeiro, passando pelo Campo Grande, por Camapuã e Sant'Ana do Paranahyba. Ao chegar à freguesia de São Francisco de Sales (atualmente São Francisco de Sales, Minas Gerais), em 12 de julho de 1867, descreve nestes termos, as características do lugar:
"(...) povoação constante dumas quarenta casas, poucas de telhas, muitas em ruínas, fundada em 1837 pouco mais ou menos, e que nenhum progresso tem tido: definha lentamente, balda das esperanças que melhores condições poderiam fazer nascer, entretanto o terreno é fértil, a posição bonita e a índole dos habitantes boa. Na várzea que se percorre antes de subir a suave encosta em que assentam as casas, vimos pela última vez os belíssimos grupos de buritis (...) 
A comitiva de José Antônio, depois de descansar na freguesia de Francisco de Sales, seguiu caminhos, à oeste, quase em linha reta, não distantes da margem direita do Rio Grande, em terras mineiras, passando nas proximidades de onde se encontram, na atualidade, as cidades de Iturama, Alexandrita e Carneirinho.


RIO PARANAÍBA


Com aproximadamente 20 léguas de percurso, chega enfim às margens do Rio Paranaíba, na altura do atual Porto Alencastro, divisa da então Província de Mato Grosso com a de Minas Gerais.
"(...) entramos na mata do rio Paranaíba, a qual conserva em seus terrenos enatados, lodacentos, e nos troncos de suas árvores, sinais duma grande cheia, não remota. Desse centro é que se irradiam as febres; a putrefação vegetal, tão fatal aos homens, aí se efetua incessantemente, infeccionando a atmosfera três a quatro léguas ao redor. As margens do Paranaíba são naturalmente barrancosas; as águas claras, têm velocidade considerável, que a constante inclinação e esforço dos sarandis, em alguns pontos mais próximos das ribanceiras, indicam, a largura é de 350 a 400 braças. Para atravessá-las, existe uma barcaça composta de duas estragadas canoas de tamboril mantida pela barreira provincial de Mato Grosso, que daí tira algum rendimento."


VILA DE SANT'ANNA DO PARANAHYBA (PARANAÍBA - MATO GROSSO DO SUL)


Percorrendo uma légua e meia desde o Rio Paranaíba, José Antônio Pereira chega à Vila de Sant'Anna do Paranahyba, na Província de Mato Grosso. Pretendendo estacionar ali o tempo suficiente para descanso e reabastecimento, providencia o empréstimo de terreno para a plantação de uma pequena roça. Entretanto, depara-se com um surto local de febre palustre. Obriga-se a permanecer por vários meses, retardando a marcha da viagem. Por seus conhecimentos de fitoterapia, e terapêutica homeopática, é convocado a colaborar no atendimento aos doentes. Na falta de um facultativo, naquela situação emergencial, atuou como verdadeiro médico, tendo ajudado a salvar muitas vidas.
A Vila de Sant'Anna seria muito diferente daquela, sobre a qual nos conta Taunay, quando por ali passou, nos idos de 7 de julho de 1867?
"O aspecto da povoação pareceu-nos sumamente pitoresco, talvez pelo desejo ardente de alcançá-la, como o ponto terminal do sertão de Mato Grosso ou como o último laço que nos prendia àquela província, em que tanto havíamos sofrido, talvez pela estação em que chegávamos; na realidade, metidas de permeio às casas, moitas copadas de laranjeiras, coroadas de milhares de auríferos pomos, ao lado doutras carregadas de cândidas flores, encantavam as vistas e embalsamavam ao longe os ares, trescalando o especial aroma. (...)
Transpondo um còrregozinho e subindo uma ladeira onde há míseras casinholas, chega-se à principal rua da povoação, outrora florescente núcleo de população, hoje dizimada das febres intermitentes, oriundas das enchentes do Paranaíba, ou pelo menos já estigmatizada dêsse mal, o que quer dizer o mesmo, visto como os moradores que de lá fugiram, não voltam mais; 800 habitantes mais ou menos, três ou quatro ruas bem alinhadas, uma matriz em construção, há muitos lustros, o tipo melancólico duma vila em decadência, o silêncio por todos os lados, crianças anêmicas, mulheres descoradas, homens desalentados, eis a vila de Sant'Ana, ponto controverso entre as províncias de Goiás e Mato Grosso (...)" 
Segundo Taunay, o único prédio assobradado da vila, onde pernoitou, era a casa do major Martim Francisco de Melo, que o recebeu de modo hospitaleiro.


RUMO A CAMAPUÃ (CAMAPUÃ - MATO GROSSO DO SUL)


Debelado o surto de malária, sem que nenhum dos seus houvesse perecido; refeitos do cansaço das jornadas precedentes e reabastecidos com os meios necessários de sobrevivência; José Antônio, à frente de sua comitiva, enceta viagem por mais 63 léguas, nos sertões da Província de Mato Grosso. A partir daquele ponto, a caravana passou a ter 62 pessoas e onze carros mineiros, uma vez que sua filha Maria Carolina (que tinha o mesmo nome da mãe) e seu genro, Antônio Gonçalves Martins, juntamente com a filha do casal, Maria Joaquina, haviam resolvido regressar a Minas Gerais.
Procurando chegar a Camapuã, toma o rumo noroeste, em direção a Baús. Viaja, portanto, através de um caminho paralelo ao rio Aporé, parte da chamada "estrada do Piquiri" (2), que passava na região do atual município de Cassilândia. Em pleno Sertão dos Garcias, vai encontrar fazendas ao longo desta trilha, e certamente transpor os ribeirões das Pombas e Indaiá, citados por Taunay (1). A meio termo, desvia sua jornada para oeste, observando neste trecho, em sentido contrário, a mesma rota seguida por Taunay, de retorno a Corte, em 1867.
Procurando ultrapassar os rios, na medida do possível, contornando suas nascentes através de seus espigões, acaba chegando ao Sucuriú. Às margens deste, haviam moradores muito pobres:
"Algumas choças esburacadas abrigam meia dúzia de habitantes paupérrimos, amarelados das febres intermitentes e de constituição enfezada, os quais vivem à mercê de plantações proporcionais à fôrça de trabalho, representada pela mais completa indolência (...)
Os integrantes da comitiva são transferidos para a margem oposta do Sucuriú, por meio de canoas. Animais e carros de bois transpõem-no, a vau.
A partir daí, até Camapuã, irão varar os dias sem encontrar uma única alma vivente ao longo daqueles sertões inóspitos. Jornadeiam apenas do raiar ao por do sol, ultrapassando os rios, através de seus leitos. Vencem o São Domingos, depois o rio Verde (de Mato Grosso do Sul) e finalmente, após passarem pelo ribeirão Claro, chegam ao Brejão, a pouco menos de 8 léguas da abandonada Fazenda Camapuã. Nas cercanias dessa fazenda, a uma légua e três quartos, irão encontrar o lugar chamado Corredor, "(...) habitado por negros e mulatos livres, ou libertados pelo fato de não aparecerem herdeiros de seus possuidores."
Em Camapuã, a comitiva de José Antônio Pereira permanece por alguns dias, para reabastecimento e descanso.


DESTINO FINAL: O "CAMPO GRANDE"


Vinte e duas léguas de viagem os separava da pequena propriedade, deixada em 1872, situada na confluência de dois córregos, em terras do Campo Grande. José Antônio prossegue para o sul em busca de seu destino. Vadeia as cabeceiras do rio Pardo na altura do atual Capim Verde, e, trilhando caminhos que passavam por Bandeirante, Bom-Fim e Jaraguari de hoje, atinge o seu destino em 14 de agosto de 1875. Encontra no local uma pequena família proveniente do povoado da Prata, próximo de Monte Alegre, e que, procurando os campos da Vacaria, há poucos meses, resolvera por aqui permanecer. Seu patriarca, Manoel Vieira de Souza (Manoel Olivério), recebe-os fidalgamente, propondo a devolução da propriedade, mediante o ressarcimento da importância que havia pago ao zelador do pequeno sítio, que aliás, depois do negócio, havia tomado rumo ignorado.
Associando-se agora com Manoel Olivério, providencia a imediata construção de vários ranchos ao longo da margem direita do córrego, depois denominado "Prosa", na altura da atual Rua 26 de Agosto. Os habitantes somam, então, 72 pessoas. José Antônio dá-se conta que estava fazendo surgir um novo povoado e logo providencia a determinação de seus limites. Denomina-o Arraial de Santo Antônio do Campo Grande, em homenagem ao Santo de sua devoção, cumprindo promessa que fizera ao passar pela Vila de Sant'Anna do Paranahyba, caso nenhum de sua comitiva perecesse de febre palustre, que acometia a população daquela localidade.
A segunda viagem, de Monte Alegre de Minas ao Campo Grande, embora seguindo um trajeto mais curto (aproximadamente 140 léguas), teve uma duração maior, em virtude do tamanho da comitiva, da lentidão característica dos carros de bois e da permanência prolongada na Vila de Sant'Anna do Paranahyba.






TERCEIRA VIAGEM DE JOSÉ ANTÔNIO PEREIRA


E. Barsanulfo Pereira


A terceira e última viagem de José Antônio Pereira às Minas Gerais aconteceu em 1878. Voltou a Monte Alegre para buscar seu genro, já viúvo, Antônio Gonçalves Martins; sua neta, Maria Joaquina; o esposo desta, Tomé Martins Cardoso; e a filhinha do casal, Maria Jesuína.
A bem da verdade, alguns fatos motivaram esse derradeiro retorno. Por ocasião da segunda viagem ao Campo Grande, com toda sua família, José Antônio fazia-se acompanhar, também, de sua filha Maria Carolina. Esta, cujo nome era igual ao de sua progenitora, vinha com seu marido, Antônio Gonçalves Martins, e a filha, Maria Joaquina.
Chegando ao povoado de Sant'Anna do Paranahyba, Antônio Gonçalves, por motivos ignorados, desentendeu-se com o sogro e resolveu regressar a Minas em um dos carros de bois, levando esposa e filha. Como foi anteriormente referido, a comitiva de José Antônio Pereira, quando partiu de Monte Alegre, utilizava-se de doze carros mineiros, chegando ao Campo Grande com apenas onze.
Entre os anos 1875 e 1878, Maria Carolina falece em Monte Alegre. José Antônio Pereira, patriarca de bom coração, naturalmente saudoso de seus familiares que se encontravam naquela cidade do triângulo mineiro, retorna para revê-los. Não mais encontra sua filha, mas sim o genro, agora viúvo e a neta Maria Joaquina, já casada, e com uma filha recém-nascida. Certamente em decorrência da índole daqueles mineiros, a reconciliação foi inevitável.
Assim sendo, no mesmo ano de 1878 José Antônio Pereira acaba persuadindo-os a mudar, definitivamente, para o Arraial de Santo Antônio do Campo Grande, e se juntar aos demais integrantes da enorme família dos Pereiras.
O itinerário dessa viagem, em todos os seus aspectos, isto é, dos trajetos seguidos aos locais de parada para descanso e reabastecimento, semelhou-se ao da segunda viagem.
Em 1892 (9 de novembro), o Presidente da Província de Mato Grosso baixou a Lei n. 20, determinando o reexame de todos os títulos de posse. Os proprietários deviam apresentar prova de morada habitual e de exploração da terra. Depois era nomeado um perito para medir a área. Se houvesse excesso, o proprietário deveria pagar à Província a diferença. Só após esta regularização era feito o registro do título de posse, na intendência local, “conforme o Regulamento n. 38 de 15 de Fevereiro de 1893” .
Adiante está transcrito, literalmente, o registro da área do Arraial de Santo Antônio de Campo Grande, sob o número 427, no livro n. 14, do município de Nioaque.
Faço saber aos que o presente titulo verem ou delle tiverem conhecimento que nesta data de conformidade com os artigos 116 a 125 do Regim. 38, approvei por se acharem em devida forma os documentos que me forão apresentados para registro, de Jose Antonio Pereira, administrador da Igreja do Patrimônio de Santo Antonio de Campo-Grande possue uma área de campos e mattos no lugar denominado “Campo Grande” neste município, na extensão de três mil e seiscentos hectares. Limitando-se: ao Nascente: as cabeceiras do córrego da Proza, comprehendidas todas as vertentes affluentes do mesmo córrego; ao Poente, com as posses de D. Francisca Taveira e José Alves Rabello, pelo espigão mestre; ao Norte, do córrego do Segredo e todos os seus affluentes linha recta  a cabeceira da Proza; ao Sul, com os limites de Joaquim Antonio Pereira recta atravessando Nhanduhy e o córrego Lagoa. Cujas posses funda-se no artigo 5º § 5 da Lei n. 20 de 9 de Novembro de 1892, e determino que se expeça ao requerente o presente titulo que lhe permita legitimação. Intendência Municipal de Nioac 20 de junho de 1894. Eu José Nelson de Santiago, escrevente que o escrevi (assignado). Intendente Geral João Luiz da Fonseca e Moraes.
(Excerto do artigo O registro de Campo Grande,  Jornal “O Correio do Estado”, Caderno B, Suplemento Cultural, página 3, Campo Grande, Mato Grosso do Sul, 28 de agosto de 2004)


Themístocles Paes de Souza Brasil
Engenheiro Militar
Transcrição do manuscrito original:
Prof. Arnaldo Rodrigues Menecozi
Designado pelas autoridades militares para dar início e andamento às obras necessárias à instalação em Campo Grande da 5ª Brigada Estratégica, a esta vila cheguei em maio do ano próximo findo para dar desempenho às ordens recebidas, pondo logo de chegada os meus serviços profissionais de engenheiro à disposição da municipalidade, independentemente de remuneração, com o intuito de concorrer para o desenvolvimento local de tão futuroso povoado.
Era então Intendente Municipal o esforçado Sr. José Santiago, que me proporcionou a satisfação de prestar os meus serviços, propondo-me ao Governo para proceder à demarcação da área de terras necessária e destinada ao Rocio.
Foi assim que devidamente autorizado pelo Exmo. Sr. Coronel Presidente do estado, depois de publicados os editais conforme prescrevem as leis e atentam os documentos que a este acompanham, dei início aos trabalhos cuja marcha e detalhes indicados na caderneta e planta vão abaixo descritos.


Técnica


Foram empregados nos trabalhos os métodos: de caminhamento, para o traçado do perímetro e o de radiamento para a sua ligação à planta do povoado. Uma grande parte do levantamento dos detalhes, como sejam: caminhos, habitações isoladas, etc., foi feito por caminhamento expedito a pedômetro e bússola, que fornecem precisão mais que suficiente para os fins a que se destinam.
Além do pedômetro e bússola, foram utilizados os seguintes instrumentos: teodolito de montanha Gurley’s dando o minuto, uma estadia para a verificação das distancias e nivelamento trigonométrico, cadeia métrica e trena, todos para os trabalhos topográficos; sextante Hurlinan com tripode, cronômetro Whrite de campanha tempo médio, aneróide e cronômetro máxima e mínima; todos para a determinação das coordenadas astronômicas, teodolito astronômico de campanha do fabricante Heyde para determinação da declinação magnética, cujo valor obtido foi de δ= 1º31’14” O.
Na medida dos ângulos foi feita a repetição para reduzir os erros sistemáticos e fortuitos.
Com o fim de dar maior precisão, as distâncias foram todas medidas segundo as inclinações do terreno sendo estas registradas com a aproximação de minuto permitindo a redução ao horizonte.
A latitude foi obtida pela redução ao meridiano de alturas do sol.
A falta de outros meios chegou a determinar a longitude pelo caminhamento que fiz Aquidauana – Campo Grande, obtendo-a por diferença da daquela vila que tem a sua longitude exata determinada pelo telégrafo.
A declinação magnética determinou-se observando a maior elongação do β Centauro.
 altitude foi obtida pelo barômetro com boa média de observações e calculada pelo método gráfico de Weileumann.
Foram empregados processos analíticos, quer no cálculo da área, quer na obtenção de elementos lineares. A distribuição do erro de fechamento foi feita pelo método dito de distribuição paralela a mais comumente empregada.
Marcha dos trabalhos – Não tendo sido encontrado registro nem título das terras destinadas à vila de Campo Grande, resolvi em vista de se tratar de terras para servidão pública, procedeu aos trabalhos conforme as indicações dos limites que me foram feitas pela municipalidade, limites estes que estão no conhecimento de todos os moradores da vila, principalmente os mais antigos.
Tendo pelo Exmo. Sr. Presidente do Estado me sido determinado em telegrama que destes autos faço acompanhar, que a área a demarcar deveria ser de três mil e seiscentos hectares, tornou-se necessária proceder à medição de um polígono de ensaio, para uma vez analisada a sua área tirar ou adicionar a que fosse necessária para completar as 3.600 hectares.
Na escolha deste polígono de ensaio obedeci aos critérios seguintes:
1º Ter como lados obrigados os limites das fazendas do Estribo e do Bandeira, que por distarem pouco da vila deviam constituir limites do Rocio a fim de evitar que ficasse uma faixa estreita de terras devolutas e inaproveitadas, entre eles;
2º Circunscrever o mais estritamente possível as cabeceiras que afluem para os dois pequenos córregos que regam o povoado, o Prosa e o Segredo, a fim de que ele não fique privado da água necessária à sua manutenção e higiene.
3º Dar a forma a mais regular possível.
Atentando a estas três condições foi o polígono traçado.
Sendo os limites das fazendas do Bandeira e do Estribo linhas obrigadas, por elas convinham ser iniciados os trabalhos e por isto foram os editais publicados designando o marco o mais oriental dos limites da primeira destas fazendas para início dos trabalhos.
Foi verificado, porém não existir este marco e nenhum dos outros desses limites, tornando-se, portanto necessária uma aumentação de rumos.
Nestas condições e não dispondo de meios para assinalar as posições dos marcos mencionados resolvi iniciar o trabalho em um ponto de terras devolutas e por elas prosseguir até que me chegasse às mãos cópia dos autos e planta das medições das referidas fazendas, pedidos para Cuiabá.
Assim a 16 de novembro em presença dos senhores José Santiago, Intendente municipal; Antônio Paes de Barros, secretário da Câmara; Amando de Oliveira, posseiro da fazenda do Bandeira; e várias outras pessoas; foi colocada a estaca inicial, na face a mais ocidental do polígono, prosseguindo os trabalhos com rumo sensivelmente Norte que depois foi modificado para satisfazer a segunda das condições impostas.
Para satisfazer a 3ª das condições foi necessário calcular os elementos do polígono, com as denominações 65-75; 75-93; 98-111 e traçá-los no terreno.
Ao chegar à estaca 90, em frente à cabeceira do Desbarrancado, a mais oriental de todas, foi traçado um alinhamento ligando-a ao marco mais próximo da fazenda do Estribo e dali prosseguindo-se pela sua linha divisória em direção a SO (sudoeste), até o marco comum aos limites da fazenda do Bandeira, marco este que não foi encontrado e cuja posição foi determinada pelos marcos do alinhamento existentes nas linhas neles concorrentes.
Passam-se então a aumentação dos limites da fazenda do Bandeira, para o que em ofício feito convite aos posseiros para se fazerem devidamente representar a fim de assistirem à execução do trabalho.
Seguindo-se o que está especificado no memorial descritivo dos autos da respectiva medição, foi feita a aumentação das linhas, não tendo havido protesto por parte dos interessados que acompanharam os trabalhos.
Chegando de novo à estaca inicial foi o polígono calculado, tendo sido encontrada área de seis mil, quinhentos e quatro hectares, trinta e quatro ares e setenta e nove metros quadrados, área esta que excede de cerca de dois mil novecentos e quatro hectares a de três mil e seiscentos determinada.
Da inspeção da planta vê-se que para tirar do polígono traçado este excesso de área ter-se-ia necessariamente que cortar várias das cabeceiras tributárias dos córregos e isto viria trazer grande prejuízo ao desenvolvimento local, pois que não só as terras boas para cultura se acham à margem das águas, sendo as restantes bastante impróprias, como também pela impossibilidade de, de modo conveniente, a municipalidade legislar sobre as águas e assim criar grandes e talvez insuperáveis dificuldades no futuro abastecimento, que devido à parcimônia com quem a natureza aí distribuiu as águas, desde já se faz mister.
Atendendo a todas estas condições comuniquei ao Sr. Intendente estes resultados dos estudos que fiz e a ele lembrei a necessidade de solicitar do Exmo. Senhor Presidente que fosse concedida toda a área encontrada, o que quer dizer, o domínio de todas as águas.
A solicitação foi atendida, me havendo sido comunicado em ofício da municipalidade, que a estes autos faço juntar.
No estudo que fazermos bem se pode verificar a necessidade da medida que o Exmo. Senhor Presidente houve por bem conceder à municipalidade.
A caderneta e a tabela do cálculo juntas esclarecem sobre os detalhes dos trabalhos.
Área
Conforme a determinação do governo do Estado e execução dos trabalhos ficará o Rocio da vila de Campo Grande com a área de seis mil quinhentos e quatro hectares, trinta e quatro ares e setenta e nove metros quadrados. (6.504 Hc. 34 ar. 79 m2).


Limites característicos do Rocio
Ao Norte: terras devolutas, separadas por uma reta dirigida de Oeste para Leste, com o rumo magnético de N 89º13’27” E, da extensão de 2.499,49 m, através de terreno coberto de cerrado espesso, determinada por dois marcos de aroeira colocados nos seus extremos. A 700 metros esta reta atravessou uma pequenina cabeceira;


A Leste: terras devolutas das quais é separado por uma linha quebrada com os seguintes elementos: uma reta de 2.863,28 m de extensão com o rumo magnético de S 23º34’8” E; seguindo-se outra de 4.989,75 m, com o rumo de S 26º45’11” E, com a extensão de 1.640,58 m, indo terminar no marco o mais ao norte do limite NO (Noroeste) da fazenda do Estribo.


Esta linha quebrada foi aberta através espesso cerrado.


Ao Sul: limita com a fazenda do Estribo da qual é separado por uma linha de 4.359, 17 m com o rumo de S 54º48’13” O, aberta em cerrado grosso; com a fazenda do Bandeira, por uma linha quebrada composta dos seguintes elementos: uma reta partindo do marco comum à fazenda do Estribo, com o rumo N 50º1’27” O e a extensão de 1.085 m, seguindo-se outra com o rumo S 75º28’22” O da extensão de 2.500 m, finalmente uma terceira da extensão de 2.322, 28 m com o rumo N 28º5’49” O que atravessou o rio Anhanduí na distância de 1.433,41 m.


A Oeste: limita com terras devolutas e invernada militar das quais está separada por uma linha quebrada com os elementos: uma reta com o rumo N 4º14’ E de extensão de 2.148,21 m seguindo-se outra com o rumo N 17º14’49” E com a extensão de 8.032,04 m ambas traçadas em campo.


Demarcação


Todos os pontos importantes do perímetro foram assinalados com marcos de aroeira falquejados terminados superiormente por pirâmides e marcados a fogo com as iniciais CM da Câmara Municipal. Igualmente foram colocados marcos de alinhamento.
Feição do terreno e formação geológica
O terreno demarcado apresenta belíssimo aspecto, aliás, não raro no vasto planalto da serra de Maracaju, que se estende de Sul a Norte, com suave inclinação para Leste formando a parte ocidental da bacia do rio Paraná.
Das admiráveis planuras elevadas que cercam a pequena bacia, se avista em depressão o fundo ligeiramente ondulado dos pequenos vales por onde correm os dois pequeninos córregos serpenteando-se ora no interior de densa mata, já em grande parte destruída pelo impiedoso machado, ora em clareiras e cortando quintais de habitação do povoado.
Com direções convergentes vão estes córregos próximo se encontrar determinando a pequena forquilha onde demoram a maior parte dos fogos da futurosa Campo Grande.
Como em todo o planalto da serra de Maracaju encontra-se aí simplicidade na estrutura geológica.
A rocha predominante é o grês ferruginoso que forma vasto alicerce de grande espessura constituindo – subsolo, que se estende para Oeste indo terminar em corte abrupto a não grande distância, onde começa a imensa depressão que constitui a bacia do rio Paraguai.
Por sobre este grande estrato gresoso acha-se uma camada de espessura variável de argila vermelha protegida, ora por camada húmus nos lugares onde as circunstâncias mesológicas foram favoráveis, determinando exuberância na vegetação formando magníficas matas, ora por verdadeiros bancos de areia onde a vegetação se aniquila, formando o cerrado característico do planalto central do Brasil.
É de notar que estes bancos se encontram sempre nos lugares elevados onde a forma do terreno não favorece o desmonte pelos meios meteóricos.
Em um ou outro lugar e nos pequenos vales de erosão vêem-se aflorações de pequeninos filito de xisto argiloso.
As ocorrências destas rochas, apesar de não virem acompanhadas do calcário, dão indício da formação geológica Devoniana, terceiro período da era primária.[1]
Todas as pesquisas a que procedi no sentido de descobrir algum fóssil que pudesse vir melhor orientar o estudo deram resultado negativo parecendo-se poder concluir a natureza afossilífera local.
Deste esboço geológico se verifica quão escassos são os materiais de construção de origem mineral de que se pode dispor no local.
Além do grês, que se apresenta com modalidades nas suas propriedades físicas, principalmente na dureza, oferecendo como pedra de construção qualidades desejável, da areia e da argila de nenhum outro material se poderá dispor.
O calcário falta em absoluto.
Esta pobreza mineral local, aliada à falta de meios de transporte, tem trazido como conseqüência o retardamento do desenvolvimento da vila de Campo Grande, que outros e grandes elementos de prosperidade podem oferecer.
Hidrografia
É precisamente na vila de Campo grande que se dá a confluência dos dois pequenos córregos que receberam as denominações pitorescas de Prosa e Segredo, ao que se dizem originárias da luta que se travou em tempos passados entre moradores das margens de um e de outro.
Estes dois córregos fornecem em concorrência as primeiras águas do Anhanduí, principal afluente do rio Pardo, tributário do Paraná.
O Prosa, que traz as suas águas das pequenas elevações de Leste, dirige-se precisamente para Oeste com um percurso de 7.800 metros, quase em linha reta, despenhando-se aqui e ali em degraus de rocha gresosa, formando pequeninos saltos dos quais o mais importante tem 5 metros de alto, vencendo deste modo a diferença de nível de 112 metros que medeia entre a sua origem e foz.
O leito de puramente arenoso nas origens se transforma, apresentando-se em um e outro lugar ora lajeado pelo grês, ora argiloso.
A sua verdadeira cabeceira ou cabeceira mestra é conhecida é conhecida pelo nome de Desbarrancado, pelo aspecto que apresenta o seu leito devido ao desmonte produzido pelas águas. Recebe pela margem direita três pequenos afluentes, sendo que o mais baixo oferece maior importância determinando pela sua confluência a forquilha conhecida como pontal do Prosa, encerrando excelentes terras em grande parte cultivadas.
O Segredo nasce nas elevações do Norte, dirige-se a SSO (Sul Sudoeste) com traçado sensivelmente retilíneo, atingindo o desenvolvimento de 10.000 metros em um desnível de 113 m.
Recebe pela margem direita duas pequenas cabeceiras, uma menor que tem origem na lagoa da Cruz, a outra um pouco maior denominada Olhos d’Água, também oriunda de uma pequenina lagoa.
Pela margem esquerda apenas uma cabeceira contribui com as suas águas, é a denominada Cabeceira do Jacinto.
Tanto o Prosa como o Segredo tem os seus leques cobertos de exuberante mata já em grande parte grosseiramente destruída, o que vem sobremodo influir na diminuição das águas.
Determinados os volumes d’água de ambos durante a seca do começo de 1909, foram encontrados seguintes números: Prosa: velocidade média, 0,2744 m, área da seção com 1,2256 m2 e a descarga por minuto 336 litros; Segredo: velocidade média, 0,4536 m, área da seção com 0,6290 m2 e a descarga por minuto 285 litros. Descarga total dos dois córregos: 621 litros por segundo, valor este que reduzido ao dia orça em 53.654.400 litros.
Se adaptar-se o número 310 litros, que é o número adotado em Nova Iorque, por habitante/dia, teremos que os dois córregos poderão abastecer uma população de cerca de 170.000 habitantes.
Deve-se notar que a descarga dos córregos conquanto elevada seja, entretanto atualmente pouco aproveitada devido às lavagens e despejos que neles fazem os moradores das suas margens, apesar das medidas adotadas pela municipalidade.
Um rego derivado do Prosa, à montante do primeiro salto, conduz a água que é consumida por quase todos os habitantes da vila.
Este meio de distribuir a água além do grande inconveniente para a higiene da alimentação oferece ainda a desvantagem de inutilizar o solo espalhando água pelas ruas que com o trânsito ficam cortadas por verdadeiros atoleiros.
É de lastimar o regime adotado pelos habitantes ribeirinhos desta localidade na utilização das águas.
Em geral cada um tira em seu terreno um rego de derivação do córrego, conduzindo as águas primeiramente para o clássico monjolo, seguindo-se ao chiqueiro de porcos e em seguida dirigindo-se de novo ao córrego.
Compreendem-se facilmente os danos que podem causar este regime, que existe ainda a despeito dos meios coibitivos estabelecidos pela legislação, quer municipal, quer estadual.
Enquanto é pequena a população e as rendas municipais não comportam as despesas de um melhor serviço de abastecimento, a distribuição de água por chafarizes convenientemente distribuídos se impõe.
Ao governo do Estado cabe o fornecer os recursos necessários para este melhoramento vital, desde que os cofres municipais não possam, como se dá, suportar as despesas decorrentes.
Trata-se de proteger uma população crescente de males, que atualmente pequenos se irão avultando à medida que ela aumentar.
Afora as águas dos córregos, não pode a população na estação da seca contar com nenhuma outra.
O recurso pouco recomendável das cisternas em Campo Grande, não oferece segurança devido à natureza do subsolo.
Abertas as cisternas depois de muitas dificuldades, para vencer a rocha gresosa, muitas vezes com grandes profundidades, não fornecem veios d’água perenes e conservam-se apenas úmidos pelas infiltrações.
É só por ocasião da estação das chuvas, que nele se acumulam grandes volumes de águas pluviais que ficam em depósito até o seu completo consumo.
São assim águas paradas sob a ação de resíduos orgânicos arrastados que, depois de certo tempo, nenhuma garantia oferece à higiene.
Além disto, o volume limitado que oferecem estas águas, obriga à economia e dali a abstinência de certos preceitos necessários à saúde.
O regime das águas pluviais é em Campo Grande interessante pela impetuosidade que apresentam as torrentes, e pelo trabalho que produzem arrastando as terras, cavando uns lugares, aterrando outros, enfim transformando a feição exterior do solo com grande rapidez.
Acerca de 600 m a Oeste das primeiras cabeceiras do Segredo tem origem um pequenino córrego denominado Ceroula, que despeja suas águas para a bacia do rio Aquidauana, tributário importante do [rio] Paraguai.
A estreita faixa de terra que medeia entre as duas cabeceiras constitui nesse ponto o divisor d'águas das duas enormes bacias dos grandes caudais que formam o rio da Prata.
Ela apresenta aí planuras cobertas de cerrado e leva direção SO-NE.
É de notar o grande contraste que se observa entre as duas bacias adjacentes.
Enquanto que uma, a do Paraná, apresenta lindos campos descobertos matizando o solo de uma belíssima serenidade topográfica, sulcado caprichosamente pela vegetação marginal, elevada dos veios d'água; a outra, a do rio Paraguai, ostenta uma vegetação compacta de cerrado, cobrindo por completo terreno um tanto acidentado, elevando aqui e além pequenos morros como que para romper a monotonia da paisagem.
A bacia do Paraná inclina as suas terras suavemente para Leste, ao mesmo tempo em que a do Paraguai assenta o seu leito no fundo de enorme depressão cercada por gigantesca muralha de grês, já esboroada em muitos lugares, permitindo a formação de rampas que facilitam o acesso ao planalto.


Clima


Goza a vila de Campo Grande da amenidade de um clima temperado peculiar às altas latitudes da zona tórrida, em altitudes médias e longe das influências dos mares.
Assim é que o termômetro não acusa grandes subidas no verão e nem maiores descidas no inverno, mudando a temperatura gradualmente sem quedas abruptas.
Em 1909 a mínima temperatura observada foi de 4º Centígrados[2] e deu-se no mês de maio e a máxima foi de 29ºC, tendo tido lugar no mês de dezembro.
A pressão barométrica oscila pouco em torno de 702 mm.
Observa-se aí o mesmo fato que nas baixas latitudes, o ano é dividido em duas estações bem acentuadas: da seca e a das chuvas, o que permite uma previsão mais ou menos segura das condições materiais e concorre sobremodo para a regularização da vida e do trabalho.
Como vento dominante sopra diariamente uma brisa de Leste que, nas horas de maior calor vem amenizar a temperatura ambiente e trazer o ar purificado através [de] vasto trajeto pelos campos do Oriente.
Estas condições climáticas permitem desde logo se afirmar a salubridade, entretanto para o seu verdadeiro conhecimento seria necessário que a população se impusesse às prescrições higiênicas que são aí muito descuradas.
Ainda assim, com o descaso pela higiene, a despeito de tudo é a salubridade invejável, diminuta é a porcentagem dos óbitos por moléstia.


Povoado


Pelos 20º27'15,6” de latitude Sul, 11º36'55,5” de longitude Oeste do meridiano do Rio de Janeiro, e uma altitude de 735 m, na forquilha formada pelos córregos Prosa e Segredo, em terreno ligeiramente inclinado, apresentando um aspecto agradável ao viajante que chega aos planos elevados de Oeste, pela estrada do porto 15 de Novembro do rio Paraná, assenta a vila de Campo Grande.
Pequena ainda, lentamente se formando lutando com dificuldades decorrentes da falta de materiais de construção, mostra, entretanto ser um núcleo de progresso que rapidamente aumentará quando as vias de comunicação em execução facilitar os produtos de que necessita.
Pela sua situação geográfica, no centro da vastíssima região a mais propícia para a indústria pastoril, está destinada a ser o maior empório do sul do Mato Grosso, onde se fará a permuta de todos os produtos necessários à vida.
Ponto estratégico importante dominando com possível equidistância toda a parte mais importante da fronteira sul, além de oferecer todos os elementos necessários à manutenção das forças e salubridade para o gado equino, será necessariamente o ponto de onde irradiarão os ramais de estrada de ferro que chegando normalmente às fronteiras, venham à feição das sabidas táticas, permitem que as tropas estejam dentro de reduzido tempo estabelecido os seus primeiros contatos com as forças adversárias, obstando-lhes o passo invasor.
Como não bastasse a condição estratégica de Campo Grande para determinar o traçado ferroviário para a fronteira, ainda o terreno está como que a pedir a sua construção, oferecendo o leito quase preparado pela natureza no divisor de águas Paraná – Paraguai, que em planuras admiráveis descreve com a direção SO (sudoeste) e um desenvolvimento de cerca de 250 quilômetros em gracioso arco de círculo.
Nesse trajeto os grandes movimentos de terras e obras de arte, que mais encarecem o custo quilométrico, faltam quase que por completo.
A indústria se acha apenas esboçada, sendo representada por pequenos engenhos de cana que produzem rapadura e aguardente, por uma serraria, e algumas olarias que produzem tijolos e telhas.
A agricultura está também em atraso, cultiva-se o milho, o arroz, a cana-de-açúcar, o café, capim jaraguá para forragem, tendo em pequena escala, e a mandioca que apesar da fertilidade com que se produz, não é cultivada nem mesmo o suficiente para o consumo, sendo a farinha importada do Rio Grande do Sul.
Esboça-se atualmente uma pequena cultura de maniçoba que parece promissora.
Fica assim terminada com a indicação dos trabalhos da medição, esta ligeira notícia sobre o mais futuroso dos modernos povoados do rico estado de Mato Grosso.


Campo Grande, 30 de março de 1910.
Themístocles Paes de Souza Brasil
Engenheiro Militar





Campo Grande 

Mato Grosso do Sul - MS 
Histórico  
           O passado histórico de Campo Grande reflete-se em três destacados vultos, de atuação bem
definida pelos pesquisadores e, atualmente, ao que parece, aceita por todos: o poconeano João
Nepomuceno e os mineiros José Antônio Pereira e Manoel Vieira de Souza. Ao primeiro, cabe o
pioneirismo, por ter sido o morador mais antigo da área; ao segundo, as glórias e honras de
fundador da Cidade e ao terceiro o reconhecimento e gratidão pela honestidade, desambição e
companheirismo, pois facilitou a Pereira a retomada de posição inicial, antes de voltar a Monte
Alegre, em Minas Gerais. Sem aquela acolhida fraterna, talvez José Antônio tivesse prosseguido,
em busca de outras terras.
   Segundo historiadores, no dia 21 de junho de 1872, José Antônio Pereira e sua comitiva,
acamparam no local denominado Mato Cortado, hoje  Horto Florestal, na confluência de dois
córregos, mais tarde conhecidos como Prosa  e Segredo. No dia seguinte, cavalgando pelas
imediações, Pereira avistou um rancho, onde foi encontrar João Nepomuceno e sua mulher Maria
Abranches. Afirmou Vespasiano Martins: "O certo, o seguro, porque ouvi de velhos moradores
desta região uns mortos, outros ainda vivos, é que o primeiro rancho quem fincou dentro do hoje
rocio de Campo Grande, foi o esperto poconeano João Nepomuceno", cuja saída do local
antecedeu a volta de Pereira, ocorrida no dia 20 de julho de 1875.
   Contudo, é a José Antônio que a história confere todas as iniciativas e providências com
vistas à fundação do Arraial de Santo Antônio de Campo Grande, após o seu retorno de Monte
Alegre. Foram construídos outros ranchos.
   A capela, sob a invocação de Santo Antônio, foi concluída em 1.877 . Tinha paredes de pau
-a -pique e cobertura de telhas, trazidas das ruínas dos Jesuítas, em Camapuã. No início de 1878,
José Antônio foi a Nioaque, de onde trouxe o padre Julião Urquia, vigário de Miranda, a fim de
abençoar a capela, o arraial, celebrar a primeira missa e outros atos religiosos Na oportunidade,
três casamentos entrelaçaram as famílias Pereira  e Vieira de Souza, das quais nasceram os
primeiros campo-grandenses. Em 1889, o arraial ganhou a primeira escola.
   O encontro dos trilhos da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil do ramal vindo de Porto
Esperança (MS) com o procedente de Bauru (SP), e a chegada do primeiro trem a Campo Grande,
em 28 de maio de 1914, marcaram decisivamente o futuro da Cidade. Data daí sua consolidação e
o seu progresso.
   Em 1914 chegou o 5.° regimento de artilharia montada e, em 1921, Campo Grande passou
a ser Sede da Circunscrição Militar de Mato Grosso.
   Dois anos depois, houve um movimento em favor da divisão do Estado do Mato Grosso,
instalando-se em Campo Grande o Governo Provisório chefiado por Vespasiano Barbosa Martins,
o qual teve pequena duração.
   Em 1934, por intermédio da "Liga Sul Matogrossense", foi encaminhado ao Congresso
Nacional Constituinte pedido de criação de um Território Federal ou Estadual autônomo na região
sul de Mato Grosso. O documento figurou com mais de 13.000 assinaturas.
   O desenvolvimento de Campo Grande acelerou-se, estimulado pela efetivação de obras
públicas de grande porte, destacando-se pavimentação asfáltica de suas principais ruas;
abastecimento de energia elétrica com interligação ao sistema CESP; modernização do sistema de
comunicação urbana e interurbana, do transporte aéreo e pavimentação asfáltica do sistema
rodoviário interestadual .
   Por recomendação do Excelentíssimo Senhor  Presidente da República, General Ernesto
Geisel, a Superintendência de Desenvolvimento da Região Centro-Oeste - SUDECO iniciou, em
1975, os estudos básicos visando à divisão do  Estado de Mato Grosso. Os resultados,
consubstanciados na Exposição de Motivos n.° 037 de 24 de agosto de 1977, foram apresentados
ao Chefe do Governo Federal, acompanhados de Anteprojeto de Lei Complementar, criando o
Estado de Mato Grosso do Sul.
 Finalmente, no dia 11 de outubro de 1977, foi solenemente sancionada em Brasília a Lei
Complementar n.° 31, criando o Estado do Mato Grosso do Sul. Estabelece o seu "Art. 3.° - A              cidade de Campo Grande é a Capital do Estado". Estava então consolidada a velha
aspiração dos sul-mato-grossenses e, particularmente, a dos campo-grandenses.
   Instalado o Estado no dia 01 de janeiro de 1979 a Capital Mato-grossulense adquiriu nova
feição, passando a apresentar um novo ciclo de progresso, assinalado por maiores estímulos à sua
expansão urbana, social, cultural e política. Foi convertida, afinal, como era desejado, em centro
das decisões político-administrativas de uma Unidade da Federação.
   Parque dos Poderes - Um centro político-administrativo agregando todos os órgãos dos
Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Encontra-se em fase final de construção pelo
Governo do Estado. Compreendendo área de 2.800.000  m² a leste da Cidade poderá, também,
abrigar as entidades federais interessadas.
   Por sua concepção urbanística e arquitetônica a obra mato-grossulense é um monumento à
ecologia e demonstra o grau de respeito que a atual geração tributa à natureza. O meio ambiente
está sendo utilizado com reverência. No momento, a Avenida Afonso Pena está sendo prolongada
até o Parque, a fim de ligá-lo mais facilmente ao Centro da Cidade.
   O topônimo - Ganhou inicialmente a denominação de Santo Antônio de Campo Grande,
topônimo mais tarde simplificado para Campo  Grande, em razão do vastíssimo campo que se
estende a sudoeste da Cidade. Outra versão indica haver o topônimo se originado da expressão
freqüentemente usada pelo fundador quando se dirigia aos que chegavam: "O campo é grande".
Gentílico: campo-grandense
Formação Administrativa
           Distrito criado com a denominação de Campo Grande pela lei nº 792, de 23-11-1889,
subordinado ao município de Nioac.
           Elevado á categoria de vila com a denominação de Campo Grande, pela resolução de
estadual nº 225, de 26-08-1899, desmembrado do município de Nioac. Sede na antiga vila de
Campo Grande. Constituído do distrito sede. Instalada em 26-08-1889
           Em divisão administrativa referente ao ano de 1911, a vila é constituída do distrito sede.
   Elevado à condição de cidade com a denominação de Campo Grande, pela lei estadual nº
772, de 16-07-1918.
           Em divisão administrativa referente ao no de 1933, o município é constituído do distrito
sede.
            Em divisões territoriais datadas de 31-XII-1936 e 31-XII-1937, o município aparece
constituído de 6 distritos: Campo Grande, Jaraguari, Rio Pardo, Rochedo, Serrote e Terenos.
            Pelo decreto-lei estadual nº 208, de 26-10-1938, extingüi o distrito de Serrote, sendo sua
área anexada o distrito sede do município de Campo Grande.
            No quadro fixado para vigorar no período de 1939-1943, o município é constituído de 5
distritos: Campo Grande, Jaraguari, Rio Pardo, Rochedo e Terenos.
            Pelo decreto-lei estadual  nº 545, de 31-12-1943, desmembra do município de Campo
Grande o distrito de Rio Pardo. Elevado à categoria de município com a denominação de Ribas do
Rio Pardo. O decreto lei acima citado altera a denominação do distrito de Rochedo para Taveira.
            No quadro fixado para vigorar no período de 1944-1948, o município é constituído de 4
distritos:  Campo Grande, Jaraguari, Taveira (ex-Rochedo) e Terenos.
            Pela lei estadual nº 204, de 23-11-1948, desmembra do município de Campo Grande o
distrito de Taveira. Elevado à categoria de município com a denominação de Rochedo.
            Pela lei estadual nº 207, de 01-12-1948, é criado o distrito de Sidrolândia (ex-povoado) e
anexado ao município de Campo Grande.
            Em divisão territorial datada  de 1-VII-1950, o município é constituído de 4 distritos:
Campo Grande, Jaraguari, Sidrolânida e Terenos.
            Pela lei estadual nº 674, de 11-12-1953, desmembra do município de Campo Grande o
distrito de Terenos. Elevado á categoria de município.
            Pela lei estadual nº 682, de 11-12-1953, é criado o distrito de Rochedinho (ex-povoado), e
anexado ao município de 

Grande.
                         Pela lei estadual nº 684, de 11-12-1953, desmembra do município de Campo Grande o
distrito de Sidrolândia. Elevado á categoria de município.          
            Pela lei estadual nº 692, de 11-12-1953, desmembra do município de Campo Grande o
distrito de Jaraguari. Elevado à categoria de município.        

             Em divisão territorial datada  de 1-VII-1955, o município é constituído de 2 distritos:
Campo Grande e Rochedinho.
             Pela lei estadual nº 1131, de 17-11-1958, é criado o distrito de Anhanduí (ex-povoado), e
anexado ao município de Campo Grande. .
                   Em divisão territorial datada de 1-VII-1960, o  município é constituído de 3 distritos:  
Campo Grande, Anhanduí, Rochedinho.
             Assim permanecendo em divisão territorial datada de 2009.  

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